Skip to content

Conversação Internacional do CIEN 2017 – Os laços sociais e suas transformações[1]

image_print
TIRO na Cabeça. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra14755/tiro-na-cabeca>. Acesso em: 23 de Set. 2018. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060
Buenos Aires, 12 de setembro de 2017
Mesa de Encerramento

 

Beatriz Udenio:

Toda conversação tem um começo e um final. E chegamos ao final. Assim como foi reiterado durante o trabalho desta jornada, talvez tenhamos a sorte de sair um pouquinho transformados pelo encontro. Diria que existem sinais de que algo assim irá acontecendo.

As pontuações e perspectivas ficaram ao encargo de nosso assessor de fato, Juan Carlos Indart, que vem nos acompanhando há muito tempo com sua presença e intervenções. Alguém que se refere ao trabalho do CIEN com grande generosidade, citando-o como exemplo da incidência, não só desejável ou possível, mas concreta da psicanálise no mundo contemporâneo.

Assim, situarei uma lembrança que presta tributo a um certo estilo, que é o estilo do CIEN. É difícil falar de um estilo quando se trata de uma instância, pois, no campo psicanalítico, estamos mais acostumados a falar de estilo ligado ao singular, ao sinthoma. Minha referência, neste caso, será trazer e compartilhar uma lembrança da Sra. Judith Miller, quem desde o início do CIEN nos acompanhou, balizou e sustentou o nosso trabalho.

Ao longo dos anos, apoiamos nossa orientação nos ensinamentos e referências de Jacques-Alain Miller, Éric Laurent, e na leitura de textos esclarecedores de Sigmund Freud e Jacques Lacan. E, de tudo isto, aprendemos que existe algo valioso na maneira em que cada um, no CIEN, sustenta estas expressões de um modo original, ali onde se perde a autoria – como indicava Foucault. Em relação a isto, Judith Miller contribuiu muito ao cuidar do que considerava a boa maneira de fazê-lo, localizando a responsabilidade no compromisso de trabalho assumido por cada um. Uma anedota permitirá situar melhor esta pincelada e que diz muito bem o que vivenciamos nesta conversação. Durante uma jornada, há anos, num diálogo ao lado, Judith surpreendeu-me ao comentar sobre alguém que apresentava um trabalho naquele momento: “Esta pessoa só trabalha para si mesma, só quer ser célebre”.

Aprendi muito com esta intervenção de Judith, pois, para entrar na cozinha dos laboratórios, aquelas mencionados por Daumas, é preciso sujar-se. E se não o fizermos assim, não estamos entrando na cozinha. Nas cozinhas do CIEN não se admitem celebridades. Trata-se muito mais de despojar-se de toda expectativa de tornar-se célebre. E esta mulher devia saber do que falava, porque viveu e sustentou fortes convicções em uma época na qual o culto à personalidade era algo cunhado em torno de figuras muito “célebres” – que deixaram suas deploráveis marcas no mundo. Lacan faz uma referência a isto no Seminário 17. De modo que o CIEN não é um lugar para celebridades, nem para o culto a nenhuma personalidade. E não sei como o conseguimos, mas cada um com sua modalidade consegue somar-se a isto. E de imediato podemos ressoar algumas frases cruciais, sustentar alguma chama relacionada àquilo que nos interessa, segundo o jeito de cada um.

Seja como analisantes esclarecidos ou sabendo do impossível de ensinar, vamos nos enfiando na cozinha, cada um à sua maneira. Então, retomando a ideia de Alejandro Daumas, ao falar da alegria, podemos dizer que por não ser célebres e por não querermos sê-lo, podemos celebrar de outra o trabalho no qual nos juntamos em torno de uma brecha, de um furo que não se fechará nunca – isto Lacan nos ensinou – de uma hiância, que representamos no hífen, o hyphen que suporta e protege este lugar vazio, e, em cada sujeito, neste trabalho entre vários, entre muitos, sem celebridades.

Bom, agora sim, a palavra de Juan Carlos Indart para as Pontuações e Perspectivas

Juan Carlos Indart: Estou aqui outra vez com vocês convidado por Beatriz Udenio, mas este “outra vez” não tem tanta frequência que me impeça de usar algumas das belas expressões forjadas no CIEN, e dizer, por exemplo, que estou me “incluindo desde fora” … e vamos ver se conseguimos nos abrir ao desconhecido do Outro.

(Risos do auditório)

J.C. Indart: Não é muito cômoda para mim esta posição de fazer um encerramento com pontuações e perspectivas, porque costuma ser uma posição que inclui resumos e generalizações. Um lugar muito ruim para o que aqui foi suscitado: a singularidade, o detalhe, a diversidade…

Beatriz Udenio: Foi por isto que te convidamos!

J.C.Indart: Mas, por que é preciso fazer pontuações e imaginar perspectivas?

(Risos do auditório)

Beatriz Udenio: Para que você subverta isto!

C. Indart: Então devo dizer que, na minha singularidade, aproveitei este convite para vir vigiar.

(Risos do auditório)

J.C. Indart: Porque a última vez que participei no CIEN foi aqui em Buenos Aires… Já faz quanto tempo?

Beatriz Udenio: Em 2013.

J.C. Indart: 2013, bem, 4 anos. Nessa oportunidade estive muito entusiasmado com a tarefa dos laboratórios do CIEN…, mas com dúvidas se este estilo de trabalho poderia durar e perseverar …, sobretudo com a diversidade de países, de cidades, de grupos e de pessoas que articula. De maneira que, após vigiar, uma pontuação que posso fazer e testemunhar que, após 4 anos, este estilo persevera e se sustenta explicitamente em quase todos os trabalhos apresentados hoje.

Para dizer isto é preciso dizer algo sobre este estilo, inicialmente, da maneira mais abrangente possível. É um estilo de conversação, mas, o incrível, o que persevera, é que nestes dispositivos as pessoas dos laboratórios do CIEN que escutam – cômoda ou incomodamente – intervêm na conversação sem entrar nunca em uma rivalidade imaginária por causa das identificações. Quando se trata de temas que suscitam – para situá-lo rapidamente – o colocar-se sob algum S1. Ou inclusive, poderíamos dizer, quando se trata de responder politicamente segundo o que se entende por política no discurso comum. Observem que se trata de intervenções que induzem a um deslizamento, a um deslocamento, a sair do lugar segregativo e mortífero. Não devemos nunca esquecer que, em um grupo, em última instância, diante do insuportável, diante desse “não sei que fazer com o outro”, a resposta que o habita é: matá-lo e/ou suicidar-se. Contra esta inclinação o que encontramos nestas experiências do CIEN é que nessas encruzilhadas um deslocamento, uma transformação do tema, um desvio, compõem sempre o estilo através do qual se consegue dissolver a tensão pulsional no imaginário. Quando isso acontece, pode aparecer aquilo que insistiram em chamar de “conversação plena”, porque certamente nem sempre uma conversação chega a este ponto.

Por isto, assinalo que, quando no CIEN se diz “conversação”, não é uma conversação qualquer. É uma conversação na qual se intervém para não deixar cristalizar um S1. Beatriz insistiu nisso, porque é só quando cada um pode arriscar-se a colocar um pouco em palavras a sua singularidade, – isto é inventar – e por isto uma conversação só e plena quando existem tais invenções. Quatro anos depois comprovamos que os efeitos deste dispositivo ocorrem e, portanto, sua vigência continua vigorosa. É assim que começaram, e em uma diversidade de situações distintas – escolas, grupos para drogaditos, centros comunitários, escolas de teatro, e muitas outras instituições – onde se recebem crianças e adolescentes. Existe, pois, uma inserção variada em diferentes instituições sociais, o que nos faz imaginar o CIEN, em sua extensão, como um avesso real da vida contemporânea.

Quando acontece o que poderíamos chamar de o máximo do alcance do dispositivo – o nó do dispositivo completo, não só o primeiro passo – temos em alguém que não é predizível, em alguém que pode ser a criança problema, mas poderia ser seu docente, ou outros que participam da conversação, a recuperação de uma ‘dignidade’. Tomo esta expressão que Alejandro Daumas utilizou, uma vez que parece excelente para descrever o máximo possível de se alcançar. Isso! Mas quando existe “isso”, creio que uma perspectiva é centrar-se nisso como trabalho a apresentar, como um testemunho “d’isso” que deve oferecer-se a uma teorização, como uma pérola que pode servir muito aos outros, não só às pessoas do CIEN. Observem que, em algumas ocasiões, “isso” aparece com dados precisos e suficientes para sua consideração psicanalítica, mas, outras vezes, os que apresentam dão testemunho de um trabalho, de que algo ocorreu, mas ainda não se entende bem como teve tal alcance, essa conquista.

Bem, agora, em perspectiva, isto que chamo alcance máximo do que se pode aspirar implica que, na conversação, em uma ou em mais de uma, alguém atravesse esse momento novo, inédito, que podemos chamar de dignidade singular, e creio que no que tange à perspectiva, “isso” terá que ir sendo situado com a noção de sintoma. Vocês dizem isto de muitas maneiras: divisão subjetiva, surgimento de um desejo, apaziguamento de um gozo, todas formas de indicar “isso”. Mas, se ocorre dizia Daumas, será fundamental ir provando aos poucos que se trata da última noção de sintoma presente no ensino de Lacan.

Eu gostaria de trazer alguns exemplos sobre isto. Já mencionei em uma intervenção durante a conversação: o caso desse menino que mente em um jogo e ganha sempre, e não se consegue modificar nada pelo fato de que lhe digam que mente, ou que descobriram, ou que tem que dizer a verdade, ou que assim não se joga. É uma mentira bem sintomática e a conversação possibilita que a coisa deslize de um modo muito diferente ao que seria colocar-se como um espelho na sua frente para localizá-lo: “ou você diz a verdade ou não jogo mais com você”, ou, “com este menino não sei o que fazer, ele trapaceia”. Quando isso desliza um pouco e aparece isto “faço isso porque não quero ficar como um tonto”, algo novo acontece. Porque não é um passar por tonto de alguém com fortes ideais constituídos, e que não suporta um efeito de castração, de – ᵠ, uma vez que lhe custa um pouco aceitar que às vezes se perde e às vezes se ganha. É inútil buscar isso. O que ele chama “ficar como um tonto” significa perder toda imagem de si no laço social e assim resolveu isto com este sintoma.

Isto permite entender que, quando lhe foi exigida “a verdade”, se retira do jogo e permanece um pouco deprimido e fechado, até que alguém vai buscá-lo dizendo que não pretende julgá-lo, nem nada neste estilo, mas, que pondo a mão no seu ombro diz que é “para falar sobre o que te acontece”.

E o convida a jogar outro jogo – porque o jogo que o menino jogava não está lá – dizendo-lhe: “Vou te ensinar o truco – um jogo argentino, rioplatense, no qual efetivamente as cartas estão cobertas, nas apostas pode-se mentir e enganar ao outro em relação ao que se tem ou não se tem. E acrescenta: “Vamos jogar isto que é um jogo no qual se pode mentir”, ao que o menino responde: “Nisto eu sou bom!”

Neste caso vocês têm a função de uma mentira sintomática contra a mentira como defeito na lei kantiana, que obriga a “dirás sempre a verdade”. Não só poderia tornar-se um bom jogador de truco, como também poderia transformar-se em um grande diplomata … ou em um político … psicanalista seguramente!

(Risos)

Lacan foi um grande seguidor dos ensinamentos de Balthazar Gracián – um jesuíta a quem admirava – porque assinalava que não há caminho de santidade possível se não se sabe mentir e que dizer a verdade é muitas vezes o pior. Então, observem este funcionamento através do qual ele consegue reinserir-se e obter um lugar, pois seu desejo foi escutado: Sim! E se sustenta absolutamente naquilo que havia sido sua solução. A chance que ele tem é de que agora em vez de não fazer laço com “isso”, ele possa com “isso”, em outro dispositivo como o truco, passar ao outro que pode ganhar ou perder sustentando sua imagem corporal com o sintoma “mentiroso”.

Em outro caso, tem um menino que fuma e não lhe dizem: “Não tens que fumar”. Deslocam a questão dizendo-lhe que isto tem consequências e que assim não poderá treinar um esporte. Também aqui se observa o efeito de uma conversação, onde se fala com este jovem e o qual se respeita tanto ao ponto de deixá-lo só com sua decisão em um campo induzido de desejo. No texto sobre este caso o colega que o apresentou deixou algo fora, por exigências de concisão. Mas, logo depois ao ampliá-lo, em nossa conversação, disse o que me parece fundamental saber, é que o menino chapado continuava comparecendo aos treinos dos demais, ele ficava olhando. De modo que durante uma semana continuou chapado e olhando. De repente já não se apresentou assim e integrou-se no treino. A gente depois pergunta por que diabos houve um acatamento subjetivo a uma norma qualquer? Evidentemente que não foi por ter aderido a um princípio kantiano do estilo “não fumarei jamais” ou “fumarei sempre”, mas, tampouco foi por ter assumido um princípio aristotélico, do tipo “fumarei com moderação”. Podemos comprovar que ele inventa algo assim “alguns dias sim, outros não”, mas porque sente gozo no corpo, como imagem de si um corpo esportivo. Vemos, uma vez mais, que é para sustentar um imaginário corporal que ele renuncia aos excessos do gozo da droga.

Tem também aquele menino que pensa que deveria ser levado a um centro de saúde mental e que, em vez disso, termina incorporando-se em uma escola de dança. Mas não se trata de “dançaterapia”, nem de orientar de modo geral as pessoas para que realizem atividades “saudáveis” para o corpo, assim como a dança ou outras. Trata-se de saber que ele já havia conquistado isto como sintoma. Em um estado de máxima degradação, onde já não tinha nada, numa solidão completa, ele havia se inventado como bailarino, solução que usou, mais ou menos profissionalmente, até que desmoronou. De maneira que é através de seu sintoma que ele faz laço.

Temos, então, um sujeito que consegue usar seu sintoma ‘esporte’ para fazer laço social e apaziguar o gozo da droga, e outro que consegue isso com seu sintoma ‘mentiroso’ e temos ainda outro que consegue isso com seu sintoma ‘bailarino’.

Nos momentos em que se é e se está aí com seu sintoma singular e por definição usando-o, estes são, na minha opinião, momentos de ‘dignidade’, que o dispositivo da conversação do CIEN faz nascer, resu(s)cita.[2]

Isto é o que considero o ganho maior a ser obtido nos dispositivos do CIEN. Mas há também situações nas quais não verificamos isto. Constatamos, sim, que há divisão subjetiva, um deslocamento da posição em que se estava, uma saída da impotência podendo começar algo. Mas, sem que haja uma conclusão sintomática, e sim uma abertura a um novo tempo de compreender.

Quando estamos nesse ponto, é preciso que tenham cuidado; não tomem como fato que a prática do dispositivo impede que desemboquem na religião. Frente aos protocolos, perante o frio das normas burocráticas, o surgimento de um momento de piedade, ou de caridade (que poderia encontrar-se, por exemplo, nessa vice-diretora que se jogou no chão para segurar a criança desesperada) é de fato uma grande mudança. Assim o é a partir do ponto de vista de uma vice-diretora que se guiava somente pela boa práxis e o protocolo, mas não sabemos de antemão se vai na direção que nos interessa.

Nestes casos, que também foram apresentados de forma muito resumida, foi excluído algo que me parece essencial. Uma das professoras se joga no chão para ver uma criança que não falava quase nada e que só se enraivecia e batia, e ao fazer isto não busca contê-la piedosamente; ela vê nesse contato que existe uma possibilidade de trabalhar com esta menina com certos métodos de psicomotricidade, que conhecia, e que se lembra. E é esta intervenção singular, exercícios de psicomotricidade, o que permite uma mudança incrível nessa menina. Esta é, sem dúvida, a parte que nos interessa, a invenção e seu saber, e não a complacência de ter sido piedosa com a menina.

Em outro caso, o da biblioteca, ainda não se vê bem, parece … Neste caso, trata-se da vice-diretora, para quem pode ser mais difícil jogar-se no chão, entretanto para ela foi um momento de grande divisão, frente ao qual teve a ideia de dar-lhe um espaço próprio, convidando-a para um encontro na biblioteca. Mas não temos mais dados para saber se na biblioteca foram rezar juntas pela fé, pela esperança e pela caridade ou se prosseguirão na direção da singularidade do sintoma que nos interessa. É nesta linha que lhes digo quando me parece pleno o êxito de um laboratório do CIEN. Nem sempre acontece e é preciso buscá-lo, tê-lo como um horizonte.

Também advertiria que é preciso ter cuidado com as experiências que estão vinculadas a grupos que têm uma prática artística, como é o caso de um trabalho de um laboratório com um grupo de teatro. Para localizar onde um laboratório pode intervir com a conversação, posso advertir de um risco que correm, – este é o opaco papel que me cabe – de deslizarem àquilo que se fez em demasia, o psicodrama, pois as mudanças que se diz obter, como sair das inibições e atravessar não sei que coisas tendo como base a representação de personagens no teatro. Isto não tem nada a ver com conseguir algo no real, pela via do sintoma. Isso verificou-se nas loucuras que ocorreram com o efeito do psicodrama e do uso do teatro com intenções terapêuticas. Por isto, é necessário fazer um esforço para ver como seria possível realizar nesta experiência uma articulação mais precisa.

E quando os efeitos do estilo CIEN, além do que é convocado a produzir em relação à infância, também têm a ver com todas estas divisões subjetivas que são produzidas nos docentes, ou nos médicos, ou no pessoal da saúde mental, quando rapidamente intervêm na conversação produzindo um efeito de renovação neles. Isto também acontece com os próprios responsáveis pelo Laboratório, então … o nome que daria … à essência deste estilo … não sei se devo dizê-lo Beatriz …

Beatriz Udenio: Diga …

J.C Indart: É uma prática sem valor.

(Silêncio do auditório)

C Indart: E isto não se suporta! Alejandro já não estava suportando muito bem, fazendo-se de filósofo político, declarando que a escola é medieval e que se extingue…

(Risos do auditório)

C. Indart: Fazer grandes profecias sobre aonde iremos parar com isto… crer na história… nossa prática não vale nada para isto… a história não saberá para que servimos. Se com a palavra buscamos regar o broto da singularidade que o mercado arrasa, devemos aceitar o preço a pagar, ou seja de que o valor de nossa prática é o de não ter valor. Não há que se atormentar com problemas que o Laboratório não pode resolver. Conseguir instantes de uma mudança subjetiva como os que estamos discutindo, pois bem, é “isso”: não há seguimento, nem tratamento a longo prazo, nem nada nesse estilo; é um exemplo do que Lacan pedia da psicanálise: conseguir ser uma prática sem valor.

Assim diria, preste atenção nisso, pois a conversação também introduz, de imediato impossíveis para seus participantes; e também podem introduzir impossíveis para os próprios laboratórios, e é preciso aceitar que algumas situações talvez não cheguem a produzir “isso”.

A reflexão sobre o que está acontecendo com o Outro dessa escola, na qual se descrevem todos alunos fazendo grunhidos e instaurando ativamente um paradoxo esquizofrênico, o de “queremos aula – não deixaremos dar nenhuma aula”, se propõe um pouco como um limite. Alunos organizados com o grunhido e capazes de utilizar o que nós adjudicamos ao grande Outro, que não cuida da singularidade e que se rege por horários fixos e protocolares como o máximo do negativismo… Assim, quando uma professora põe o corpo para tentar ensinar, é o grupo que lhe diz: “nós nos guiamos pelo protocolo e não é seu horário”. O que acontece aí? É uma situação de ruptura extrema do laço. E é preciso ver sob quais condições se poderia inventar algo … não sei o quê. Mas é preciso aceitar também que podem haver situações onde a conversação não consiga nada, ou podem dar de cara com os mesmos grunhidos, ou o mesmo desafio ao Outro desta pequena tribo, este pequeno bando.

Para concluir: se a conversação pode acontecer – pode acontecer! – quando conta com todas vantagens das quais já falamos, é porque tem seu impossível e seu real. Assim, o que queria lhes dizer é: sigam em frente! Minha perspectiva, a que considero como sendo a melhor para o CIEN, é a de que se interessem pelos ganhos do sintoma, como sustentação para um sujeito instalar-se na vida, no mundo, no laço social. Muito obrigado.

(Aplausos)
Tradução: Glacy Gonzales Gorski
Revisão: Paola Salinas

 

 


[1] Este texto está em trabalho de edição para publicação em espanhol em “Cuaderno Nro 8 del CIEN”. Los lazos sociales y sus transformaciones”, em Buenos Aires. Agradecemos a Hernan Villar e Beatriz Udenio pelo envio do texto para publicá-lo em português.

[2] No original, jogo com o equívoco de suscitar novamente.

Back To Top