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he Case against adolescence de Epstein

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Lisa Sminorva, bordado, 2015
Alexandre Stevens[1]

ADOMANIA, ADOBASHING, WHAT ELSE ?

Depois de terem desconfiado dos adolescentes, eis que hoje os adultos os invejam. O movimento americano nomeado « Mortified » incita os adultos que sofrem de reconciliação consigo mesmos, a lerem em público passagens embaraçosas de seus diários íntimos de adolescente a fim de « expurgar o teen deles […] e até mesmo reivindicá-lo»[2]. Mas será que por causa disso o opróbio desapareceu? Robert Epstein, descoberto para nós por Jacques-Alain Miller, propõe sobre esse ponto uma tese decidida que não é sem consequências políticas. Alexandre Stevens retifica.

Na terceira jornada do Institut de l’Enfant[3], Jacques-Alain Miller apresentou o adolescente como uma construção a partir de perspectivas que não se recobrem – cronológica, biológica, comportamental, cognitiva, sociológica ou, mais ainda, artística. Uma construção sempre pode ser desfeita e ele observa o dinamismo com que Robert Epstein desconstrói o conceito mesmo de adolescência. É o que expressa precisamente o subtítulo da obra: « Rediscovering the Adult in Every Teen »[4].

Epstein afirma sua tese desde o primeiro capítulo « O Caos e a Causa ». Só depois do fim dos anos 1800 é que esse tempo da vida foi isolado do mundo dos adultos com o objetivo de tratar a suposta dificuldade da adolescência e a desordem desses jovens. Ora, ele sustenta, é o contrário que se produz: essa discrepância, longe de tratar os problemas dos adolescentes, os produz. A « crise » da adolescência, que podemos observar, é a consequência imprevista dessa prolongação da infância. Nunca, com efeito, no curso da história, houve tantas leis ou regulamentos que restringissem as escolhas dos teenagers – segundo o termo inglês que ele prefere visivelmente ao de adolescente. É que, efetivamente, ele critica nossa sociedade ocidental, sobretudo a americana, por considerar os adolescentes a partir apenas da cronologia, da idade.

Essas restrições que tocam os teens trazem às vezes paradoxos insensatos, tais como o seguinte: em alguns estados americanos, alguns políticos querem proibir o ato de fumar aos menores de 21 anos sob o pretexto de que antes dessa idade não se tem um juízo suficientemente claro sobre as condições de saúde. Mas ao mesmo tempo, dezenas de milhares de jovens americanos de 18 anos são enviados à guerra no Iraque sem que se pense que o juízo deles seria insuficiente para medir que isso poderia lhes ser nefasto.

Kati Horna, Invierno en el patio [Winter in the Courtyard], 1939
Epstein denuncia as incoerências do sistema. Nesse sentido, ele inverte algumas evidências do discurso corrente. Todos os adolescentes seriam capazes de tomar responsabilidades sozinhos? Não, com certeza. Mas todos os adultos também não e alguns jovens conseguem isso perfeitamente. Ele vai mais longe: é porque se pensa que eles são incapazes de ser responsáveis que eles frequentemente não tomam decisões que poderiam estar aptos a tomar. Enfim, infantiliza-se excessivamente os teens. Ele propõe, aliás, um teste de infantilização para que cada um possa medi-la. Pensar os adolescentes como menos capazes que os adultos lembra, segundo ele, que há pouco tempo, numerosos americanos pensavam os negros como inferiores aos brancos e as mulheres como mais fracas que os homens.

Ele examina em detalhe a série de « distúrbios » dos adolescentes e os limites que lhes são impostos. O amor e a sexualidade seriam assumidos de modo mais sensato pelos adultos? Por que pensar que uma jovem de 13 anos seria inapta a decidir livremente ter relações sexuais com um rapaz de 25, se ela sustenta isso? R. Epstein vai longe em sua perspectiva e sabe disso, pois toma a precaução de dizer que ele não pode simplesmente responder a essa questão dentro do que é a sociedade americana hoje. Ele responde, no entanto, que mesmo se se lhe recusa o direito, uma jovem de 13 anos é bastante capaz de fazer suas escolhas nesse plano. Da mesma forma para o casamento. Ele acredita nos sentimentos recíprocos, quer dizer, ele acredita na relação sexual.

E depois, por que os teens não poderiam decidir fumar, beber, dirigir, se eles demonstraram que podem fazê-lo? Dirão que eles não são ainda suficientemente sensatos? Mas quantos adultos não dirigem depois de ter bebido? Acontece a mesma coisa em relação ao exército e ao risco corrido se engajando nele. Aliás, a história da França não seria o que ela é se Joana d’Arc não tivesse podido usar armas.

Nenhuma razão de biologia cerebral, nem de medida cognitiva (teste de QI) permite pensar que os adolescentes seriam insuficientemente desenvolvidos. E as leis religiosas estão no mesmo sentido: Maria teve Jesus na idade de 13 anos, Jesus ensinava no templo aos 12 e para os judeus o Bar Mitzvah acontece pouco depois da puberdade. Aliás, se os teens dos USA são os mais atormentados do mundo, nada disso existia nos aborígenes australianos onde a passagem da infância ao estado adulto se fazia por um simples rito que ocorria pouco depois da puberdade.

Etam Cru, Moonshine, 2013

Para R. Epstein, todos os distúrbios dos adolescentes têm a ver com a infantilização deles. A prova disso lhe é dada duas vezes por Freud: primeiro Sigmund não considerou verdadeiramente o conceito de adolescência, mas insistiu apenas sobre a vida adulta e infantil; em seguida, Anna, que recebeu de seu pai uma instrução muito estrita durante sua adolescência, descreve os distúrbios dos teens e os seus próprios! Eis a prova: Freud não acredita na adolescência, mas produziu os distúrbios dela em sua filha, infantilizando-a.

Essa desconstrução da adolescência, que R. Epstein opera dessa maneira, atrai uma certa simpatia. E pode-se mesmo encontrar nela certas posições próximas das nossas nas cinco ideias de base que ele propõe: cada um é único; as competências individuais valem mais do que os a priori que se possa ter; cada um tem um potencial irrealizado; as etiquetas diagnósticas do tipo DSM são perigosas.

Além disso, quando ele descreve o desenvolvimento e os dramas da adolescência como não sendo determinados apenas pela transformação hormonal, nós não podemos senão estar de acordo com ele. Entretanto, não pela mesma razão! Ele denuncia a infantilização dos adolescentes que ele coloca na origem dos fenômenos da adolescência, enquanto, com Lacan, nós consideramos a adolescência como um sintoma da puberdade, já que tudo isso não se produziria « sem o despertar de seus sonhos »[5].

Em R. Epstein, não há nenhum real encontrado pelo sujeito. A puberdade é aí principalmente um momento simbólico particular. Para o resto, tudo é calculável por testes, que ele, aliás, nos propõe, teste de infantilização e, sobretudo, testes de competências. Não se trata certamente de dar todas as liberdades aos adolescentes. Pelo contrário, trata-se de avaliar as competências de cada um dentre eles. Tal como ele diz muito simplesmente: « agora nós devemos tomar um novo ponto de vista sobre os teens avaliando-os sobre a base de suas competências individuais »[6]. O teste de competências se tornaria assim o novo rito de passagem em nossas sociedades ocidentais?

Com certeza a sociedade vai resistir em segui-lo nessa via, diz ele, especialmente por razões econômicas porque a invenção do termo « adolescente » deu lugar ao desenvolvimento de todo um mercado voltado para ele.

Mas, enfim, não é difícil captar que se tantos adultos são finalmente tão infantis e tão pouco responsáveis quanto alguns teens, seria melhor avaliar todo mundo. O projeto simpático de um pouco de liberdade calculada para os jovens poderia bem se transformar numa obscena avaliação generalizada.

Tradução: Cristina Drummond

 


Notas:
[1] ELLE de 22 de maio de 2015.
[2] In: Hebdo-blog n. 46, 24 de junho de 2015.
[3] 21 de março de 2015.
[4] Epstein R., The Case Against Adolescence: Rediscovering the Adult in Every Teen, Quill Driver Books, 2007.
[5] Lacan J., « Prefácio a O despertar da primavera », Outros Escritos, RJ: Jorge Zahar, 2003, p. 557.
[6] « now we need to take a fresh look at teens, evaluating them based on their individual abilities ».
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