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“17 Filles”

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Sobre o filme de Delphine & Muriel Coulin, 2011
Mônica Campos Silva
Will Cotton, fot. e cenografia de Elle Fanning
New York Magazine – Spring 2013, pg 109

Em 18 de março tivemos a primeira atividade do Cien Minas em 2015. O Cine Cien, coordenado por Maria Rita Guimarães, exibiu o filme 17 FILLES, permitindo-nos investigar o tema da Jornada Internacional do Cien, “Crianças Saturadas”, que acontecerá no VII Enapol, bem como o da XIX Jornada da EBP-MG, “O Que Quer Uma Mãe Hoje?”. A conversa se estabeleceu a partir da pergunta: o que leva dezessete meninas a engravidarem simultaneamente na mesma escola? Isso porque o filme encena o acontecimento em uma instituição de ensino na qual dezessete adolescentes ficam grávidas ao mesmo tempo.

Cristina Drummond inicia seu cuidadoso comentário apontando que há algo de diferente com a protagonista que se coloca como exceção, como um saber. Assim, observamos as novas manifestações diante do impossível encontro dos sexos, que no humano só se liga pela linguagem e pela fala. Camile, em sua adolescência, acredita que ter o bebê a levará a uma vida sem abandono e devastação. Cristina destaca que o filho, como tomado por Camile, está somente no campo feminino, sendo excluído desta cena a mãe e o homem. Teresa Mendonça em sua intervenção lembra que não é a falta de informação ou a condição social que produzem a gravidez na adolescência, já que há toda uma subjetividade a permear tal escolha.

Utilizando a referência de Stevens, observamos que na adolescência o sujeito busca uma resposta sintomática, não necessariamente patológica, para o real que se apresenta, sendo o momento de constituição de um novo sintoma e de reorientação da fantasia. É necessário que na adolescência se restabeleça o sentimento de vida, ou seja, que apesar do que muda em sua imagem corporal, seja possível reconstituí-la. O sintoma é, então, a escolha de um nome, de uma profissão, de um ideal, de uma mulher, de um homem. Assim, indagamos, em nossa conversação, se alguma questão em relação à maternidade ou mesmo ao ato se apresenta para estas garotas. Parece que de imediato não, e mesmo diante da descoberta da falsa gravidez de uma das meninas, o tratamento dado, embora cause um mal estar inicial, é delas brincarem com as penas da falsa barriga. O que significa então, estar ou não grávida? Uma cena indica que alguma angústia, diante desta questão, é vivida quando a protagonista vê a imagem do bebê, no ultrassom. Ao que parece a concretização da imagem faz algo cair, fazendo-a confessar que “antes não podia imaginar”.

Lara Schnitger, I Want Kids, 2005

A conversação também localiza o tratamento dado pelo social e pela escola e as justificativas que estes tentam construir para o evento das dezessete adolescentes grávidas.  Neste sentido, vemos que a sociedade, incluindo o educandário, buscam respostas nas falhas econômicas e de informação, bem como de efeitos de grupo para tentar padronizar e normatizar o que aparece como furo.  A escola anseia que o real fique fora de seus muros.  Entretanto, podemos extrair que, mesmo sendo um evento coletivo, a pergunta sobre o que levou dezessete meninas a ficarem grávidas ao mesmo tempo, só pode ser respondida no um a um, sendo o um de cada um sozinho.

Outro aspecto apontado na conversação é o fato de que contemporaneamente, com a queda dos ideais, o que se propõe aos adolescentes é que entrem no mundo do consumo. Sabemos que o mundo do consumo, dos objetos consumíveis, não permite facilmente restabelecer ideais, mas provoca o desejo de ter os objetos que são valorizados na sociedade, objetos consumíveis. Poderíamos pensar que a série iniciada com a gravidez de Camille seja esta?

O filme nos instigou ainda mais para nos dedicarmos aos temas de trabalho deste ano. Ao mesmo tempo em que revela a antiga questão da identificação e a formação de grupo sintomática entre os adolescentes, a apresenta de um modo muito atual, pois encena o declínio dos ideais e das referências.

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