Editorial – Novembro de 2019
Paola Salinas e Síglia Leão
O Cien Digital 23 está no ar!
Neste número, os diferentes trabalhos do Cien Brasil e do Campo Freudiano transitam num tempo lógico.
Logo no início, Daniel Roy e Marie-Hèléne Brousse orientam, em seus textos, o trabalho das Redes da Infância do Campo Freudiano para os próximos dois anos. A partir desta publicação, o CIEN poderá debruçar-se sobre eles, trabalhá-los em português, para extrair dali sua especificidade no fazer dos laboratórios e pensar o tema da Diferença Sexual, desenvolvê-lo, questioná-lo a partir da experiência inter-disciplinar e dos impasses dele advindos.
Em seguida, o texto de Claire Brisson nos traz a discussão sobre o assédio na adolescência, e a entrevista de Damasia Freda nos fala sobre a adolescência no contemporâneo. Ambos apontam para perguntas constantemente presentes na prática do Cien. Prática esta que pode ser lida na rubrica laboratórios.
Ali, temos outro tempo lógico. Recolhemos algumas contribuições levadas para a VI Manhã de trabalhos do Cien Brasil, em novembro de 2018, onde a pergunta sobre “o que falar quer dizer” nos orientava como um modo de pensar a dignidade do sujeito e a violência no que se refere às crianças e aos adolescentes. Desta conversação, extraímos os fundamentos do trabalho como tema que novamente se alojou na ordem do dia e permitiu revisitar cada experiência relatada.
Há ainda um terceiro tempo neste número, de reflexão, de decantar efeitos. Ana Martha Maia nos traz uma pontuação sobre a prática no Cien, o que dela se extrai, sua orientação e o que podemos almejar obter de uma boa maneira, tocando em pontos de dificuldade e de invenção neste trabalho tão caro. Margarete Miranda, por sua vez, aborda a própria revista, nos falando do que se espera de sua transmissão e de sua posição ética.
O ponto de vista de Aline Mendes Aguiar descreve um percurso no Cien Minas, tomando-o a partir de impasses, furos e dificuldades, que puderam se tornar avanços. Tece, no trabalho de coordenação do Cien em seu estado, um fazer de cada laboratório, no ir e vir da articulação da lógica à prática das conversações inter-disciplinares.
Ainda recolhendo efeitos, o Cine Cien se faz presente. “No fio da navalha de um realismo documental”, o filme Capharnaum nos faz testemunhar “problemas de presença permanente no universo das experiências do Cien”. Com o texto de Maria Rita Guimarães, colhemos os frutos da conversação em torno deste filme, de um modo belo e decidido. Esta atividade do Cien tem sua expressão tanto nesta produção textual, como naquilo que carrega de especificidade em sua práxis, para além do debate das diferentes obras cinematográficas. Nesta direção, Giselle Fleury busca mostrar a sutil diferença entre provocar uma conversação e discutir ou debater, ainda que de modo interessante, um filme. Busca cernir o que seria a proposta do Cine Cien, e quais suas consequências por se tratar justamente de uma atividade dentro do Cien.
Por fim, a rubrica História do Cien Brasil, traz um belo texto-homenagem, que apresenta um percurso em sua vivacidade e interesse, realizado por Ana Martha Maia e o professor de teatro Duda Ribeiro, de onde podemos extrair um saber-fazer em um momento delicado de vida.
Cremos que o leitor encontrará, neste Cien Digital, balizas para conhecer, localizar, e se interessar por essa rede de trabalho que se faz a cada encontro, mas que só se sustenta numa transferência de trabalho decidida para além da psicanálise pura, colocando-nos diretamente no meio das diversas disciplinas que se ocupam da infância e adolescência. Neste ponto, seguimos somente com uma ferramenta, o não saber. Que quando bem usada, permite que invenções possam surgir nos diferentes contextos onde os laboratórios se encontram.
Assim, lançamos o convite à leitura e também à pesquisa que atravessará, nos próximos dois anos o Cien Brasil, o Cien América o Instituto da Criança e as Redes do Campo Freudiano sobre a Infância.