O buraco negro da diferença sexual
Intervenção na 5ªJournnée d´étude de l´Institute psychanalytique de l´Enfant
Marie-Hélène Brousse
Daniel Roy realizou com afinco o ordenamento dos avanços sucessivos, desde Freud até Lacan, sobre este tema “A diferença sexual”. Construiu o quadro tal como ele se desdobra hoje na Orientação lacaniana implementada por Jacques-Alain Miller com a ajuda de uma bússola, o gozo, conceito delicado. Ele o fez introduzindo em sua abordagem as mudanças importantes que tiveram lugar no discurso do mestre e seu avesso, o discurso analítico. Ele nos mostrou como Lacan, tão sensível às mudanças na modernidade, chega a antecipar movimentos no discurso do mestre antes mesmo deles aparecerem, demonstrando com isso a força preditiva da psicanálise quando a clínica se alia à lógica e à topologia. Diante disso, encontrei-me livre para introduzir algumas pistas de pesquisa suplementares para os próximos dois anos.
A diferença: potência do binário
Sexual ou não, pequena ou grande, a diferença é um dos fundamentos da ordem linguística. Ela opera, pois antes de tudo é uma operação de separar e ligar, ao mesmo tempo. Constitui pares que permitem, seja de maneira metonímica, seja metafórica, um ordenamento dos significantes, das palavras, dos conceitos, das imagens, dos sons. Basta ler J.-A. Miller[1] e se dar conta da potência da diferença e, logo, dos binários, para colocar ordem no simbólico. É assim que o laço social opera e todos os negócios humanos podem se reduzir a ele.
O discurso estende, de fato, a operacionalidade da diferença inicialmente à ordem social, à família, mas de forma mais geral a todas as estruturas institucionais: os vivos/os mortos, os ricos/os pobres, os oprimidos/os opressores, os bons/os maus, e, last but not least, os homens/as mulheres.
Mas a diferença é também um modo de satisfação que produz gozo, tanto se afirmando – pois cada falasser goza de sua diferença –, quanto se apagando. É então o gozo da mesmice, aquele do “nós” contra os outros, fraternidade que Lacan mostrou estar no fundamento do racismo[2]. A mesmice está também no fundamento do machismo. Da ordem diferencial, resvala-se para a ordem segregativa. Não há segregação que não se prenda a uma diferença atribuída aos modos de gozo. A diferença, que funda a ordem simbólica e alimenta as satisfações imaginárias, tem efeitos de real.
A diferença sexual, classicamente binária, passa por uma desordem inédita. Um certo número de movimentos de opinião tenta arrancá-la do binário S1 – S2 para pluralizá-la – LGBT – ou apagá-la: recusa do gênero ou exigência do neutro. Uma das tendências da época consiste em privilegiar o ou inclusivo – ou a, ou b, ou os dois – em detrimento do ou excludente – ou a, ou b, mas não os dois. Contudo, “gênero obriga”[3], correlativamente a esses movimentos emancipatórios, se desdobra também, em reação, um movimento conservador que se afirma contra na vida política mundial: Bolsonaro, Trump, a ascensão de religiões e de seitas. Viu-se, na França, esse movimento se manifestar contra o chamado “matrimônio para todos”[4], retornando às representações da diferença sexual tradicionais do patriarcado.
Todo o ensino de Lacan aborda a questão da diferença sexual nos seres falantes, não a partir da natureza, mas da linguagem e do sujeito. Essa mudança radical de ponto de vista diferencia o falo do pênis, logo, o significante do órgão, e culmina no Seminário 20, mais, ainda. Passagem do sujeito ao corpo falante, a diferença cessa de ser organizada pela ordem binária e cede lugar a uma oposição não binária entre o Todo, incluindo todos os seres falantes de qualquer gênero que sejam, e o não-todo, que precisamente não permite mais à diferença binária consistir.
Mas não tão rápido! Partamos da clínica com crianças, que ainda nasce com frequência na estrutura familiar tradicional. D. Roy termina seu texto com esta indicação dada por J.-A. Miller em sua intervenção pronunciada por ocasião da primeira Jornada do Instituto da Criança: “Cabe ao Instituto da Criança restituir o lugar do saber da criança, disso que as crianças sabem”[5]. Oriento-me por essa recomendação, que confere aqui ao genitivo seu sentido revolucionário, seu sentido próprio, e, por consequência, confere ao Instituto da Criança seu poder. Não o que nós – psicanalistas, adultos – sabemos das crianças, mas o que aprendemos da boca das crianças. Eis a revolução psicanalítica operada por Freud com as histéricas. Lacan aplicou essa fórmula da extração do saber pela clínica analítica ao pé da letra, ao longo de toda sua trajetória.
Mutação das estruturas de parentesco ou a segunda morte de Laio
Um analisante relata em sessão o que acabara de lhe acontecer. Em uma manhã de domingo, estando na cama com sua esposa, na intimidade de seu quarto, conversando de maneira descontraída, chega o filho caçula e, colocando-se ao pé da cama, lhe lança: “Você, você vai ter uma surpresa”, e retorna para seu próprio quarto. Volta depois com sua espada de plástico e, sem dizer uma palavra, assenta o golpe mais forte que pode sobre o edredom perto dos genitais de seu pai. Versão moderna do Édipo, fundamento da estrutura psíquica freudiana e da psicanálise. Surpresa de Laio, todavia em análise!
Acrescentemos um outro elemento: no início dos anos 1980, trabalhando com aquelas que ainda não eram chamadas de professoras de escolas, que haviam trazido desenhos de seus alunos da escola materna como documentos de trabalho, elas se questionam observando que “homem” e “mulher” não eram palavras utilizadas pelas crianças da escola materna para designar a diferença dos sexos – hoje diríamos de gêneros –, porque a língua, se prestarmos a devida atenção que ela requer na prática da psicanálise, é o saber não sabido. A diferença que aparecia era entre “pai” e “mãe”: havia os papais e as mamães e não os homens e as mulheres.
Estas duas vinhetas clínicas me levam a considerar que o discurso do mestre mudou. Por um lado, o gênero suplantou o sexo, por outro, como Lacan destaca em várias ocasiões, o pai e o patriarcado sofreram declínio evidente nas sociedades uniforme e globalmente organizadas no presente pela economia capitalista, avassalando o nome ao objeto. No nível jurídico, por exemplo, o direito substituiu “pai” e “mãe” por “pais” e a noção de “parentalidade” modificou a repartição da autoridade na família. Sem esquecer os “direitos da criança”.
A “parentalidade” assim como o matrimônio dito “para todos”, manifesta uma mutação das estruturas de parentesco e, por conseguinte, dos laços familiares. Passamos a um universal que pode se enunciar pela fórmula “para todo pai”, qualquer que seja seu sexo e seu gênero. Que saber novo surge na criança que está confrontada com essas mutações?
No tempo da ordem de ferro do social, onde se aninha a diferença sexual?
Em 1973, em Televisão, Lacan afirmava que “a ordem familiar só faz traduzir que o Pai não é o genitor e que a Mãe permanece contaminando a mulher para o filhote do homem”[6]. Ainda é o caso? As crianças de 2021 recobrirão ainda o homem com o Pai e a mulher com a Mãe? Como Lacan antecipa no Seminário 21, “Les non dupes errent”, usando “o nó borromeano como um algoritmo”, “a ordem de ferro no social” substituiu a ordem patriarcal familiar[7]. Adeus pai e mãe, saudações parentalidade: a castração foi deslocada. A função fálica está paradoxalmente submetida, do lado das identificações, seja ao órgão – identificação imaginária –, seja ao gênero – novas versões da nomeação, que se tornaram autonomeação. A única coisa que permanece estável é a própria diferença como função engendrada pela linguagem e, portanto, o real da escolha que é a definição mínima da castração.
Resta à criança, que se tornar o fundamento e não mais o efeito da família, escolher seu lugar em uma diferença que se pluralizou. Qual escolher? Como a criança faz essa escolha? Sou um homem? Uma mulher? Um ou uma bi? Um ou uma trans ou um cis? Uma ou um hétero, homo? etc.
Duas observações. A primeira sobre esse ponto de linguagem, pois, finalmente, apenas esta não está submetida à escolha: hoje, a formulação aceita não é mais transexual, mas transgênero. Isso marca que “trans” toca o ser de discurso e não a falta-a-ser, que é a consequência da dominação da linguagem sobre o corpo na medida em que ele fala. Segunda observação: é válida a tese de Lacan segundo a qual as minorias têm a seu cargo as mutações dos modos de gozar dos seres falantes. O termo heterossexualidade surge na língua depois de homossexualidade e o cisgênero depois do transgênero. A criança como um “perverso polimorfo” é, portanto, totalmente designada como inventora.
Os engodos do falo e as satisfações singulares
A partir de então, não cabe utilizar o termo “função fálica”. A diferença sexual, desde Freud, de maneira mais ou menos feliz, foi abordada a partir do termo falo, quando não era simplesmente reduzida à anatomia do macho, isto é, ao pênis. Neste caso, ela repousa sobre uma foraclusão da anatomia da fêmea. Ernest Jones e outros se debateram a partir dessas premissas[8]. Pierre Naveau dedicou um estudo considerável a esse período da teoria analítica[9].
Em seu curso de 2008-2009, intitulado “Coisas de fineza em psicanálise”, J.-A. Miller afina os pontos com rigor[10]. Ele concretiza a expressão de Lacan nos Escritos[11]: “o heteróclito do complexo de castração”, termo que prefere, neste período de seu ensino, ao clássico termo de complexo de Édipo. O falo é um “metassignificante” que reenvia desordenadamente ao “fluido vital”, a um “significante imaginário”, a um “significante simbólico”, um significado, uma significação, um sacrifício, um símbolo, um signo, um órgão, e outras coisas mais. Como assinala J.-A. Miller, “o mundo libidinal que Lacan criou, ele o fez girar em torno de um significante: o falo. Isso foi expressivo para todo mundo. E como! Tão expressivo que esse significante é imaginário”[12]. O falo diz muito para todo mundo e agita os psicanalistas. Do ponto de vista do trabalho clínico, é no melhor dos casos a exploração do princípio do mal-entendido, fundador da palavra, e no pior dos casos um véu de ignorância. É por isso que J.-A. Miller reduz o heteróclito deste metassignificante a um valor: o valor “menos” que faz limite ao gozo e, portanto, torna possível o desejo. Depreende-se claramente a razão pela qual Lacan optou por “complexo de castração” de preferência a “complexo de Édipo”.
Os chamados complexos e o falo em sua definição heteróclita foram e são razão de deslizes e prejulgamentos que intervêm em certas posições antiquadas e mesmo reacionárias da psicanálise freudiana, depois pós-freudiana e até lacaniana. Lacan sempre se absteve de tais deslizes no discurso do mestre, ao contrário de alguns de seus alunos, como Françoise Dolto. Deste modo, ele sempre diferenciou o sujeito do indivíduo e do eu. Ele desumanizou o pai reduzindo-o ao nome – o Nome do Pai – e assimilando-o à função metafórica, e a mãe, reduzindo-a ao desejo. Nunca deixou de lembrar que essa operação, que tocava as bases do simbólico em psicanálise, era uma das razões de sua excomunhão do mundo analítico da época, e a razão pela qual ele nunca retomou o Seminário intitulado “Os Nomes do Pai”, que foi interrompido pela SAMCDA e seu “ar patrimonialista”[13].
Se, como faz J.-A. Miller, reduzimos o falo ao signo menos, a esse valor comum que permite aos corpos falantes entrar no comércio e no intercâmbio, como abordar a diferença sexual, a não ser pela singularidade dos modos de gozar? Em uma época em que o estatuto da criança na família mudou, em que, de produto, ela se tornou fundamento, como a criança aborda a falta, esse “menos”, inevitável, consequência da linguagem sobre o corpo e o laço de discurso? A escolha de seu modo de gozo singular, como a criança fala disso?
Mutante ou híbrido? As teorias sexuais infantis
Duas outras vinhetas clínicas mostram a potência do saber que as crianças inventam.
Uma menina que, desde seus dois anos de idade, havia impressionado seus familiares próximos pelo fato de que, para afirmar sua feminilidade, exigia vestir vários vestidos uns sobre os outros, na lógica de fazer de si mesma o fetiche, e que ganhara de presente de seis anos um pequeno caderno com um cadeado – Diário de uma Princesa –, rentabilidade capitalista do conto de fadas. Um ano ou dois mais tarde, o objeto, abandonado, cai nas mãos de um adulto curioso. Alguns desenhos, mas, escrita em páginas e páginas, a seguinte frase: “O príncipe encantado é um idiota”. Droga! Eu não sabia, mas deveria. É óbvio. Ele serve apenas para acordar a Bela Adormecida. Isso lembra o filme Kill Bill de Tarantino, no qual o nome da heroína é enredado na trilha sonora: estando adormecida em um coma profundo, devido a uma bala alojada na cabeça por um tiro dado pelo homem que ela ama, seus “favores” são negociados pelos cuidadores. Um dia, a bela adormecida acorda subitamente e está na pele dessa versão capitalista do Príncipe encantado, um idiota como apreendi tardiamente. Esses contos, mitos portanto, a quais estruturas reenviam?
No Seminário 18, Lacan começa seu desenvolvimento das fórmulas da sexuação, e, no capítulo VII, que J.-A. Miller intitulou “A parceira desvanecida”, afirma, ao falar de suas trocas, ou melhor, da sua recusa em intercambiar com Simone de Beauvoir o título que ela escolhera – O Segundo sexo –, dizendo que “não há segundo sexo”[14]. Ele define a sexualidade como uma função: “A função que é chamada de sexualidade se define, até onde sabemos alguma coisa sobre ela – e realmente sabemos um pouco, nem que seja por experiência –, pelo fato de os sexos serem dois […]. Não existe segundo sexo, a partir do momento em que entra em funcionamento a linguagem. Ou, para dizer as coisas de outra maneira, no que concerne ao que é chamado de heterossexualidade, o heteros, palavra que serve para dizer “outro” em grego, está na posição de esvaziar-se como ser para a relação sexual. É precisamente esse vazio que ele oferece à fala que eu chamo de lugar do Outro, ou seja, aquele em que se inscrevem os efeitos da referida fala”.[15] Pois então, dois ou não dois? A lei da diferença, que é a lei da articulação S1-S2, ainda é válida?
Esta mesma menina, conversando com seu irmão um dia, lhe atira um saber: “Você sabe, não há apenas meninas e meninos.” O irmão fica surpreso. “Há também as ‘meninasmeninos’ e os ‘meninosmeninas’. Eu sou uma ‘meninamenino.” O irmão responde secamente que para ele estava fora de questão situar-se na classe dos ‘meninosmeninas’. O diálogo se detém aí. Não há relação entre os sexos, mesmo multiplicando as classes e tentando ampliar as categorias. Por quê? Tenho uma ideia. Não é, me parece, em uma reiteração da fórmula A mulher não existe que se deve pesquisar, porque é claro que O homem não existe. Ninguém escapa do fato de que, desde que se começa a falar de diferença sexual, somos conduzidos pelo discurso a falar em termos de universal: “os” homens, “as” mulheres e “os” outros. Em suma, não saímos do universal, que se caracteriza pela verdade mentirosa e pelo sentido, infelizmente o mais comum possível, isto é, dominante. Na e pela linguagem, a sexualidade passa pelos desfiladeiros da palavra e todo locutor se encontra no quadro da sexuação que figura no Seminário mais, ainda do lado das duas fórmulas da sexuação, lado homem: existe um x tal que não phi de x e para todo x, phi de x[16].
Para caracterizar os efeitos da diferença sexual sobre o discurso e a fala, pode-se utilizar o modelo do buraco negro tal como os astrofísicos o definem no quadro da teoria da relatividade. Tudo o que entra no interior do buraco negro – toda a informação, toda a matéria –, é assimilada ao buraco negro, o qual é caracterizado apenas por três elementos: sua massa, sua quantidade de rotação e sua carga elétrica. Todos os objetos que caem nele se tornam inacessíveis. Desde o momento em que se entra no campo da diferença sexual, tudo o que define a singularidade dos modos de gozar e das posições subjetivas torna-se inacessível. O binário homem/mulher neutraliza todas as outras diferenças e torna inacessíveis os corpos falantes na contingência e na não universalidade de sua organização. O lado dito feminino, destacado por Lacan, é uma tentativa de tornar acessível o que não é lado homem, regido pelo regime de uma exceção e de maneira alguma universal. Lado feminino, a diferença sexual torna-se totalmente “assimétrica”[17]. O feminino só é pensável se se exclui toda ideia de complementariedade, de inclusão ou mesmo de contradição.
É certo que a diferença sexual só pode se formular no campo da identificação e da fantasia. Ser classificado por gênero só é possível do lado da lógica do todo e da exceção fálica. “O homem, o macho, o viril […] é uma criação de discurso.”[18]. Acrescentemos, A mulher também é uma criação de discurso, em função de Phi, entendido como medida do valor. A propósito, pode-se generalizar a fórmula A mulher não existe ao Homem. O sexo é o efeito de um dizer. Quais palavras, hoje, as crianças escolhem para dizer de seu pertencimento? Elas têm teorias sexuais novas?
A diferença é (a)sexuada: as diferenças ligadas à contingência
A diferença sexual do lado do gozo está ligada aos objetos mais-de-gozar ou objeto a. O que a diversifica em função da dominância de tal ou qual objeto; dominância cuja origem está ligada às marcas contingentes na história do sujeito, mas que, justamente por ser dominância e fixação, gera uma repetição e, portanto, uma necessidade.
Esses objetos têm um elemento em comum que, desde Freud, a psicanálise cerniu. Eles estão ligados aos orifícios do corpo, à passagem apreendida inicialmente como passagem do interior ao exterior do corpo. Os objetos permitem ao imaginário tornar-se uma superfície com borda.
A consequência disso é que, ligada aos orifícios do corpo próprio, a sexualidade é essencialmente autoerótica, mesmo se esses objetos são colocados no Outro. Pode-se ler a ascensão atual no laço social do discurso que submete a condições cada vez mais estritas o gozo de um corpo por outro corpo, quando, ao mesmo tempo, a interdição ancestral sobre a masturbação desapareceu. A fantasia, motor do autoerotismo, sim, o ato, não. A difusão da pornografia, o império da imagem nas redes sociais, modificam – e se sim, como –, a abordagem feita pelas crianças da sexualidade? Um puritanismo cada vez maior, aliado a uma crueza de imagens cada vez maior e a uma liberação de palavras, levaria a uma modificação da relação do sujeito com sua (a)-sexualidade? As crianças são, hoje, perversas polimorfas ou antes puritanas?
E o amor?
No Seminário XXVI, “A topologia e o tempo”18, Lacan, em 1978, fala da possibilidade de um terceiro sexo, a partir de sua escolha pelo “borromeano generalizado”: “Não há relação sexual, é isso que eu enunciei porque há um Imaginário, um Simbólico e um Real, é isso que eu não ousei dizer. […] O que faz suplência à relação sexual? Que as pessoas fazem amor, há para isso uma explicação: a possibilidade de um terceiro sexo.” Enigmático, Lacan criando dificuldade para si mesmo, retorna a esse tema para afirmar que “esse terceiro sexo não subsiste na presença dos outros dois”, que estes sobressaem do forçamento, da dominação. Ele só depende, portanto, do amor.
O amor zomba da diferença sexual? Ele é, como para o ódio, o lugar do possível onde a diferença sexual cessa de se escrever, onde ela se anula em diferença absoluta? Cessaria ela, no campo do amor, de ser dual, classificatória e, portanto, segregativa? Que podem nos ensinar as crianças sobre o amor como acesso ao terceiro sexo?