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XXY no Cien

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Eddie Hara, Dead fuckin’ Beuys & the Gang, 2009
Mônica Campos

As atividades do 2º semestre do Cien Minas foram abertas com o Cine Cien. A escolha do filme exibido, “XXY” – filme argentino escrito e dirigido por  Lucía Puenzo(2007) – auxilia a investigar a questão o que é ser homem?, escolhida pelo Cien para tratar o que aparece como enigma e as soluções possíveis encontradas pelo púbere/adolescente, no encontro com o sexual. Neste filme, um sujeito adolescente apresenta, devido a uma mutação, características físicas de ambos os sexos. Diante da indefinição anatômica do sexo, seus pais evidenciam as dificuldades para dar tratamento e destino ao que será esta jovem, qual será sua definição sexual. Entretanto, ao escolherem esperar pela manifestação da sexualidade da(o) filha(o), com a chegada da puberdade, se deparam com uma ambivalência, esta própria do humano, mas também com a singularidade da(o) adolescente em cena que irá, ainda, impedir uma definição através do discurso médico.

A conversação, rica e viva permitiu, diante do impasse colocado pelo filme: o que fazer com a indefinição sexual trazida no corpo?, extrair as demandas frente ao sujeito. No caso do filme, uma demanda materna, outra social e, ainda, uma expectativa do pai de que sua(seu) filha(o) possa ser protegida(o) até ter condições de decidir. A condição anatômica deste sujeito acolhe várias possibilidades de escolha, inclusive qual anatomia quer ter, provocando angustia ao seu redor. As questões que perpassam o filme colocam as soluções apontadas pela ciência, como a hormonização e a cirurgia, mas também a palavra do pai, como o que faz vacilar as saídas até ali encontradas para o que acontece a(o) sua (seu) filha(o).

Na conversação, aparece o caso de uma transexual, atendida no setor de psicologia do TJMG que, diferente da película, ao bater à porta da justiça, solicitando a mudança de nome, já havia se submetido à cirurgia para transformar sua genitália, até então masculina, em feminina. Embora revele uma definição, sua angústia não era menor, pois mesmo tendo construído um corpo de mulher, ao se apresentar oficialmente, era o nome de nascimento, masculino, que constava em sua documentação. Entretanto, surpreendentemente, ante a sentença do juiz que além do nome próprio modifica também, em seu registro civil, o sexo – que passa a ser feminino -, a reação deste sujeito é não aceitar esta última mudança, argumentando que “o sexo está na cabeça”, sendo esta uma escolha própria e não da justiça. O embaraço se coloca novamente entre a anatomia e a posição sexual.

Em XXY, bem como no caso apresentado, aparecem os vários discursos que interpelam o sujeito diante da sexualidade, seja para normatizá-lo ou para classificá-lo conforme cada disciplina. Roberto Chateaubriand,técnico da PBH, atuante com o público LGBT em sua experiência plural, ressalta, na conversação, que a nomeação TRANS é acadêmica, ou seja, há um discurso que tenta nomear e padronizar as variantes sexuais que não fazem a correspondência anatomia/escolha sexual. A contemporaneidade, no entanto, tem convocado novas respostas, sendo assim permitido apostar em um uso próprio e melhor, ou seja, no caso a caso, dos tratamentos protocolares, sendo a subjetividade o norteador de uma solução particularizada. Nesta via, as múltiplas definições que os próprios sujeitos de suas histórias se dão como Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, entre outros, são frutos de demandas de inclusão dessas minorias, nas diferentes singularidades que comportam, indicando para um infinito de possibilidades nas manifestações do um a um.

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