
EDITORIAL – Cien Digital #25
by cien_digital in Cien Digital #25, Editorial

Image: O menino da cordilheira, 2016, Esteban Vivaldi
EDITORIAL
Mônica Campos
Caros leitores, é com alegria que chegamos ao 25º Cien digital. Um trabalho realizado a partir da contribuição de múltiplos profissionais e instituições em que o Cien está presente.
Iniciamos com a apresentação de Anna Aromí, “Um moebius lacaniano”, em que a autora faz a leitura do encontro CIEN/CEREDA como uma forma de captar o real da psicanálise. Também por esta via, seguimos com o texto esclarecedor de Daniel Roy, “Pais Exasperados – Crianças Terríveis”, no qual aponta os embaraços de uma época no que se refere às funções parentais e às respostas das crianças.
Tendo em vista os vários lugares e temáticas, na rubrica Laboratórios temos a contribuição de diversos laboratórios: Laboratório Criar (SP), “Da prática à conversação ou da conversação à prática?”; Laboratório Digaí-Escola (RJ), “Surpresas da inter-disciplinaridade” e “Entre o questionamento agressivo e a apatia depressiva, conversação como campo de mediação subjetiva”; Laboratório Encontro de Saberes (SC), “As conversações: os atropelos, a pandemia e as novas possibilidades” e “A localização do que não se vê”; Laboratório Ciranda de Conversa (PR), “Educadores na pandemia: solitários e impotentes” e “Entre o vínculo e a educação: um impasse”; Laboratório Brota (MG), “Do impossível do furo à contingência de um parkour”; Laboratório Mãe e seus Filhos, “O sexual e a zona de fratura: perspectivas para uma prática com crianças e seus pais”. Vale destacar que todos os testemunhos das práticas nos laboratórios evidenciam a orientação e a sustentação pelos fundamentos do CIEN.
Os princípios e fundamentos do CIEN são atualizados e problematizados nas Contribuições de Ana Lydia Santiago, “O que falar quer dizer”, bem como de Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros, “A originalidade da interdisciplinaridade do CIEN”. Ambos os textos foram apresentados na Manhã do Cien Brasil em 2018. Ainda nesta rubrica, podemos ler uma instigante contribuição de Flávia Cêra sobre o nosso tempo e seus efeitos em “A família em questão”.
Em Ponto de Vista, Cláudia Regina Santa Silva, responsável pelo laboratório O saber da criança, trata do funcionamento de um laboratório do CIEN, sua formação, seu percurso, seu encerramento e o que é possível extrair levando em conta a bússola desse fazer.
A rubrica Órbita apresenta o trabalho “Violência e confronto na adolescência: o que pode fazer Borda?” de Pedro Braccini (MG). Esse tema foi tratado no Núcleo de Psicanálise e Direito do IPSM-MG, considerando o uso do diagnóstico TOD/DSM-V (transtorno opositor desafiador) – como um transtorno de conduta da infância e adolescência – para nomear os fenômenos que fazem objeção à coesão do laço social.
Para concluir nossa revista Cien Digital 25 contamos com o CINE-CIEN realizado pelo Laboratório Ciranda de Conversa (PR) e sua construção a partir do filme “Meu nome é Ray”. A questão que se elabora é: sobre qual humanidade falamos? Tema contemporâneo e caro ao CIEN.
O Cien Digital 25 agradece imensamente a gentileza dos artistas Sílvio Jessé e Esteban Vivaldi que nos permitiram compor o trabalho da revista com beleza e sensibilidade cedendo as artes aqui apresentadas.
Boa leitura!
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Editorial – Janeiro de 2022
by cien_digital in Cien Digital #24, Editorial
Mônica Campos
Caros leitores, é com satisfação que apresentamos, no 24º Cien digital, a II Conversação do CIEN América que ocorreu em setembro de 2019. Um trabalho realizado com a interlocução da Fundação do Campo Freudiano e a presença viva de Ève Miller-Rose.
Com a temática: “A Criança violenta e a dignidade do sujeito”, esse encontro se fez por uma articulação central das Redes do Campo Freudiano sobre a Infância. Se uma conversação do CIEN acontece quando cada um pode inventar, “arriscar-se a colocar em palavras a sua singularidade” (Indart), a participação na II Conversação do Cien América, dos laboratórios do Cien Brasil e Cien Argentina, permitiu ir além e verificar os princípios do Cien como estabelecidos por Judith Miller.
A partir da cena contemporânea, em que as crianças e os jovens, sensíveis às modificações no laço social são as que orientam o campo de investigação do CIEN, extraiu-se a questão: “como ser receptivos aos diferentes modos de resposta sintomática dos jovens e das crianças?”. Como orientação, veremos nos textos apresentados que a aposta do CIEN é na política do sintoma como invenção, ou seja, inventar um saber fazer.
Como vocês poderão constatar, o fruto deste número provém da prática singular de cada laboratório. Uma verdadeira conversação para realizar a II Conversação do Cien América.
Para iniciar, teremos a intervenção de Paola Salinas no lançamento da Revista “El nino”, nº 15, “Dignidade, um significante em rede”, em que esclarece a importante torção deste termo para que seja possível acolher o singular de cada um.
Ao entrarmos na II Conversação do Cien América, em sua abertura, Mônica Hage lembra o Ato de Fundação, no qual Lacan define que deveria existir, além das seções de psicanálise pura e de psicanálise aplicada, uma seção que ele denominou de “Recenseamento do Campo Freudiano”, lugar em que poderíamos incluir o Cien.
Para além, através de cada testemunho dos laboratórios do Cien aqui recolhido, será possível localizar os efeitos do dispositivo da conversação que, mantendo o espaço vazio de saber, destaca as respostas e invenções da criança, do adolescente, bem como daqueles que trabalham com eles. Isto é, frente aos discursos da saúde, da educação, e do jurídico, entre outros, veremos as possibilidades de construção de saídas e soluções singulares frente aos impasses relatados.
A questão “o que é que se faz ouvir na contemporaneidade?”, presente no argumento, está também nos trabalhos apresentados, fazendo-nos perceber que as crianças e os jovens fazem-se ouvir com as suas respostas e são a bússola num tempo perturbador.
Deste modo, a partir dos trabalhos, “Quando uma história vinda de uma criança toca profundamente”, laboratório Niños y Adolescentes Violentos: Nacidos para molestar? (CIEN-Ushuaia, Terra do Fogo/AR); “Crianças terríveis”, laboratório A criança entre a mulher e a mãe (CIEN-RJ/BR); “A porta fechada”, laboratório Ciranda de conversa (CIEN-PR/BR); “Vazio e Invenção: Liga contra a briga”, laboratório O saber da criança (CIEN-SP/BR); “Eu não te conheço: ensaios sobre possíveis saídas”, laboratório Infancias estalladas (CIEN-BsAs/AR); “Do sem direção ao todo ritmo: apostas à modulação do movimento”, laboratório Apuestas a la eficacia en los márgenes (CIEN-BsAs/AR); “‘Trevas’ na educação?”, laboratório Docentes-Doentes: deixe-os falar! (CIEN-MG/BR); “Quando portas se fecham, Janelas se abrem: Um olhar sobre um dispositivo clínico de Belo Horizonte”, laboratório Janela da Escuta (CIEN-MG/BR); “Reconquistar como sujeito a dignidade de seu sintoma”, laboratório Infância Errante (CIEN-RJ/BR); “Invenções no fio da lei”, laboratório Al filo de la ley (CIEN-BsAs/AR); “A Conversação diante da ‘política do para todos’”, laboratório Pipa Avoada (CIEN-RJ/BR), verificaremos que cada experiência transcrita neste número demonstra o lugar do Cien como uma prática que opera no lugar em que a segregação e a homogeneização se apresentam como saída para um embaraço. É neste contexto que se pode recolocar a questão que consistiu o mal estar, produzindo um furo, desviando das vias protocolares e burocráticas.
Outro ponto sensível localizado na II conversação do Cien América, “como pode o CIEN trabalhar justamente no fio da lei?”, marcará a diferença entre acompanhar a solução do sujeito e dar a direção. Nessa medida, os trabalhos apresentados trazem como a conversação descola do universal, do bom para todos.
É possível extrair dois significantes que constituíram e nortearam a construção desse trabalho: a conversação e a transmissão. Em outras palavras, como transmitir aquilo que se realiza nos laboratórios, como a possibilidade de afetar o outro e transmitir o que é próprio do fazer do CIEN.
Para encerrar, poderemos constatar, como nos diz Beatriz Udenio que a atualidade do Cien traz novidades, novos modos de laços, bem como algo sobre a alegria do Cien. Por sua vez, Paola Salinas destaca a dimensão da transmissão, ou seja, em cada novo laboratório e em cada conversação é que se constitui o lugar para a invenção, sem uma condição prévia que garanta.
Convidamos a todos a consentir em ser tocados pelas experiências do Cien, pelas suas ressonâncias e novas questões que esse encontro produziu.
Boa leitura!
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Editorial – Novembro de 2019
by cien_digital in Cien Digital #23, Editorial

Autor: Ilya Mirnyy
Imagem: 9building windows
Paola Salinas e Síglia Leão
O Cien Digital 23 está no ar!
Neste número, os diferentes trabalhos do Cien Brasil e do Campo Freudiano transitam num tempo lógico.
Logo no início, Daniel Roy e Marie-Hèléne Brousse orientam, em seus textos, o trabalho das Redes da Infância do Campo Freudiano para os próximos dois anos. A partir desta publicação, o CIEN poderá debruçar-se sobre eles, trabalhá-los em português, para extrair dali sua especificidade no fazer dos laboratórios e pensar o tema da Diferença Sexual, desenvolvê-lo, questioná-lo a partir da experiência inter-disciplinar e dos impasses dele advindos.
Em seguida, o texto de Claire Brisson nos traz a discussão sobre o assédio na adolescência, e a entrevista de Damasia Freda nos fala sobre a adolescência no contemporâneo. Ambos apontam para perguntas constantemente presentes na prática do Cien. Prática esta que pode ser lida na rubrica laboratórios.
Ali, temos outro tempo lógico. Recolhemos algumas contribuições levadas para a VI Manhã de trabalhos do Cien Brasil, em novembro de 2018, onde a pergunta sobre “o que falar quer dizer” nos orientava como um modo de pensar a dignidade do sujeito e a violência no que se refere às crianças e aos adolescentes. Desta conversação, extraímos os fundamentos do trabalho como tema que novamente se alojou na ordem do dia e permitiu revisitar cada experiência relatada.
Há ainda um terceiro tempo neste número, de reflexão, de decantar efeitos. Ana Martha Maia nos traz uma pontuação sobre a prática no Cien, o que dela se extrai, sua orientação e o que podemos almejar obter de uma boa maneira, tocando em pontos de dificuldade e de invenção neste trabalho tão caro. Margarete Miranda, por sua vez, aborda a própria revista, nos falando do que se espera de sua transmissão e de sua posição ética.
O ponto de vista de Aline Mendes Aguiar descreve um percurso no Cien Minas, tomando-o a partir de impasses, furos e dificuldades, que puderam se tornar avanços. Tece, no trabalho de coordenação do Cien em seu estado, um fazer de cada laboratório, no ir e vir da articulação da lógica à prática das conversações inter-disciplinares.
Ainda recolhendo efeitos, o Cine Cien se faz presente. “No fio da navalha de um realismo documental”, o filme Capharnaum nos faz testemunhar “problemas de presença permanente no universo das experiências do Cien”. Com o texto de Maria Rita Guimarães, colhemos os frutos da conversação em torno deste filme, de um modo belo e decidido. Esta atividade do Cien tem sua expressão tanto nesta produção textual, como naquilo que carrega de especificidade em sua práxis, para além do debate das diferentes obras cinematográficas. Nesta direção, Giselle Fleury busca mostrar a sutil diferença entre provocar uma conversação e discutir ou debater, ainda que de modo interessante, um filme. Busca cernir o que seria a proposta do Cine Cien, e quais suas consequências por se tratar justamente de uma atividade dentro do Cien.
Por fim, a rubrica História do Cien Brasil, traz um belo texto-homenagem, que apresenta um percurso em sua vivacidade e interesse, realizado por Ana Martha Maia e o professor de teatro Duda Ribeiro, de onde podemos extrair um saber-fazer em um momento delicado de vida.
Cremos que o leitor encontrará, neste Cien Digital, balizas para conhecer, localizar, e se interessar por essa rede de trabalho que se faz a cada encontro, mas que só se sustenta numa transferência de trabalho decidida para além da psicanálise pura, colocando-nos diretamente no meio das diversas disciplinas que se ocupam da infância e adolescência. Neste ponto, seguimos somente com uma ferramenta, o não saber. Que quando bem usada, permite que invenções possam surgir nos diferentes contextos onde os laboratórios se encontram.
Assim, lançamos o convite à leitura e também à pesquisa que atravessará, nos próximos dois anos o Cien Brasil, o Cien América o Instituto da Criança e as Redes do Campo Freudiano sobre a Infância.
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Editorial – Abril de 2013
by cien_digital in Cien Digital #14, Editorial

Sopheap Pich
Maria Rita Guimarães
Caro leitor,
No número inaugural do CIEN Digital dissemos, parafraseando Jacques Alain-Miller1, que sua ambição é “bem aquela de ser o Boletim eletrônico do real”. Desde então nos esforçamos por manter esse objetivo e esse número o comprova, de modo inequívoco. Não menos importante será constatar de que se trata de um objetivo compartilhado por muitos e de muitos lugares. Percorra os textos e veja a extensão geográfica aqui inserida, mapeada pelo fio orientador advindo das questões sobre o real, real das “crianças do real”, real de uma época em que seu ideal prescreve que se encaixe todo o excesso de cada sujeito numa classificação.
Vamos percorrê-lo! Que acha de partirmos de Buenos Aires? Partimos de lá ou vamos para lá? Claro, vamos todos à vizinha Buenos Aires, em 20 de novembro de 2013, por ocasião da Jornada Internacional do CIEN, que acontecerá junto ao VI Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana (Enapol), mas, primeiramente, partiremos da leitura de sua Apresentação, feita por Fernanda Otoni de Barros Brisset, coordenadora do CIEN no Brasil, com o texto: Prega leve no mundo do furor dominandis. Leia-o atentamente e detenha-se no convite:
As ressonâncias da Conversação de Salvador se farão ouvir no argumento que preparamos para animar a cada um de vocês, em especial, a enviar sua vinheta para esse encontro, cujo tema “Me inclui fora dessa – bússola que cada um inventa”, diz de nossa aposta nas invenções das nossas crianças e adolescentes, no seu saber fazer, em sua decisão apaixonada pelo futuro, se servindo do mestre (me inclui) ao prescindir dele (fora dessa) – traço fundante da juventude de cada época.
Argumento. Vamos nos deixar levar pela chamada ao trabalho produzida pela enigmática frase de um jovem: “me inclui fora dessa”, à qual Celio Garcia concedeu grande valor e para qual nos voltamos para “ler” o que há de saber aí inscrito. No argumento está escrito:
Esta Jornada do CIEN propõe-se ao exercício de nos esburacar, nossas vendas, nossos protetores de ouvidos, para dar lugar às formas variadas, à “varidade” (do sintoma), com as quais nos esbarramos cada vez mais.
Jornada Internacional do CIEN • Buenos Aires • 20 de novembro de 2013
Os indicativos de que a frase “me inclui fora dessa” nos provoca, já se mostram: você encontrará três elaborações da mesma, ressoando a natureza interdisciplinar do trabalho do CIEN. Cristiana Pittella, apoiando-se em Miller, reporta-se à ideia de exclusão interna, referindo-se ao paradoxo de Russel, aquele do barbeiro que “se barbeia a si mesmo, ele não é o barbeiro que barbeia todos aqueles que não se barbeiam: se ele é, não é.” Após evocar Groucho Marx, deixa-nos a pergunta se a frase estudada não indica alguma possibilidade de socialização do gozo e abertura ao laço social.
Como é a abordagem do oximoro “me inclui fora dessa” pela matemática? Fernando Prado introduz-nos no mundo das probabilidades, utilizando-se do evento do lançamento de duas moedas, para nos propor uma interessante leitura dos conceitos de independência, disjunção, intercessão, exclusão.
No trabalho de Hernán Villar encontramos o mito da Hidra de Lerna, que, com três cabeças, Mercado, Ciência e Técnica, obriganos a pensar no empuxo à hiperdisciplina. Através de cuidadoso desenvolvimento de suas formulações, o autor analisa suas consequências em nossas vidas, submetidos como estamos ao comando das figuras acima destacadas. Incluir-se fora das etiquetas apresenta-se como uma bufada de ar fresco para cada um.
Sim, a psicanálise oferece a oportunidade de bons ares ao sujeito, ao mantê-lo ao abrigo da pulsão de morte e lhe conceder a possibilidade de buscar um modo de viver melhor com seu real. Quem nos fala disso é Eric Laurent, na rubrica ENTREvista.
Nela, você encontrará as ideias que o autor apresenta em seu livro A batalha do autismo.
E os LABOR(a)tórios do CIEN? Frutificam seus efeitos e, sobre-tudo, frutificam os esforços do participante/analisante em extrair e formular as respostas que, de sua relação à psicanálise, pôde o-ferecer ao impasse que lhe foi apresentado. Margarete Miranda e Mônica Campos, através de duas preciosas vinhetas práticas, nos demonstram “como a experiência analítica de cada uma lhes serviu de apoio para sua ação levando em conta o real em jogo”2, nas instituições em que trabalham.
E os Laboratórios do CIEN também se frutificam, pois aqui vemos os registros de dois novos Laboratórios em formação, conforme nos relatam Claudia Reis, de Ribeirão Preto (SP) e Mônica Hage, de Salvador (BA). No texto A inimputabilidade e a bússola de cada um, Miguel Antunes nos conta como Ana Beatriz, a jovem etiquetada de “bandida” e destinada a “não ser nada na vida”, encontra seu lugar, um lugar na vida, auxiliada pela prática da Conversação interdisciplinar.
Em Órbita chegamos à Bolívia pela mão de Alexandre Stevens. Com ele podemos conhecer e aprender muito sobre o trabalho ali desenvolvido com meninos de rua. Situação extremamente semelhante ao que acontece no Brasil, encontramos em suas palavras uma generosa transmissão ,à qual nos resta agradecer.
A rubrica CineCIEN oferece-nos a oportunidade de focalizar o filme grego Canino (Kynodontas) à luz do que chamamos a política da psicanálise. Esse estranho filme é uma alegoria que nos conduz, pelo absurdo, ao encontro de uma família que vive num mundo intramuros, descontaminada do laço social, consequentemente, dos efeitos de subjetivação.
E, se chegamos até a Grécia, é hora de pensar em todas, algu-mas, umas, enfim, numa palavra que lhe ficou dessa trajetória. Queremos que nos conte, depois!
Boa leitura!

Editorial – Novembro 2013
by cien_digital in Cien Digital #15, Editorial

Cy Twombly, untitled (Rome), 1971
Maria Rita Guimarães
Caro leitor e amigo do Cien Digital,
Inclua-se! Não fique por fora da leitura deste número do Cien Digital!
Comemoramos o número 15 com visual novo, navegabilidade fácil, mais atual, mais ágil! Tudo isso pela competência de Dario de Moura que não poupou horas de trabalho e insuperável paciência na tarefa de repaginação do Cien Digital. Manifestamos aqui nossos sempre insuficientes agradecimentos.
Cien Digital chega assim, renovado e bonito para realçar seu propósito: constituir-se como espaço que permita, a cada Laboratório do CIEN, a etapa necessária ao trabalho de pesquisas e intervenções que é próprio ao CIEN _valer-se da via da escrita para cernir o real em causa na experiência. CIEN Digital, a cada número, reafirma, portanto, sua vocação de ser o boletim eletrônico do real.
Você encontrará, certamente, uma rubrica que lhe agradará, no conteúdo que agora lhe entregamos.
Interessou-se pelo Argumento da Jornada Internacional do Cien que se realizará em 20 de novembro de 2013, em Buenos Aires, publicado no CIEN Digital 14? Neste número 15 poderá ler dois recortes desse Argumento, escritos pela Comissão organizadora da Jornada – na perspectiva etimológica da palavra Argumentum: Argu oferece-nos o sentido de “iluminar” e constatamos como tal cintilação, metodicamente adotada naqueles parágrafos, leva-nos “ao ponto fundamental do CIEN: um vazio de saber onde se experimenta a eficácia de uma Conversação”.
Estávamos ansiosos para que Celio Garcia compartilhasse conosco sobre sua escuta da frase que colocou em circulação e sobre a qual o CIEN se detém para avançar na reflexão e prática. É nessa rubrica que Célio generosamente nos brinda com seu pensamento: “Começo pela expressão me inclui fora dessa. A periferia como lugar de memória do jovem infrator, onde dá prova de grande criatividade. ” Esta frase anuncia a marca orientadora com a qual Celio Garcia nos ajuda a suportar os impasses, a sustentar a política ensinada por Lacan, rumo ao real.
Ainda na Apresentação temos uma alegre notícia para partilhar com você: Fernanda Otoni, coordenadora da Comissão do CIEN no Brasil apresenta-nos o livro: Crianças falam! E têm o que dizer! , dedicado ao relato das experiências do CIEN no Brasil. Deixemos as palavras de Fernanda: “No embalo desse entusiasmo, com muito prazer apresento ao leitor pedacinhos dessa obra recheada com o desejo de CIEN.”
Estamos seguros de que gostará muito de ler, difundir, presentear os amigos com o livro do CIEN!
O desejo de CIEN implica uma política que nos exige rigor frente à “envergadura totalitária” do projeto de avaliação, classificação e determinação biológica a tudo aquilo que “nos ocorra como sujeitos, como humanos, ou melhor, como “trouhumanos” – usando um neologismo lacaniano que condensa trauma, buraco (trou, em francês). ” Encontramos em Hífen um estudo claro e vigoroso dessa questão elaborado por Mercedes de Francisco, psicanalista membro da Escola Lacaniana de Psicanálise do Campo Freudiano e da Associação Mundial de Psicanálise.
Simone Bianchi EntreVista Philippe Lacadée que nos convida a um passeio… diretamente ao real, à escrita do real de Robert Walser. Autor do livro Robert Walser, o passeador Irônico, Lacadée, respondendo às questões que lhe foram formuladas, introduz-nos à leitura que faz da obra /vida de Walser que tem na escrita a sua bússola inventada.

Leandro Katz, 21 Lineas IV, 1972, MoMA
LABOR(a)tórios demonstram o laborare da pesquisa e do encontro com os sujeitos que, em ambas atividades, por meio das Conversações, são acolhidos em sua palavra. Além disso, o ato da escrita que tenta apresentar, da maneira mais viva, os significantes do CIEN, transmite, de modo simples, a difícil tarefa que lhe cabe: “ler” a civilização a partir da lógica que contraria a poderosa inclinação reinante em verter no universal toda singularidade do sujeito. Os trabalhos “Das nuvens ao que sai do corpo rumo ao que só se inclui por fora”, “Me inclui fora dessa: o analista e o lugar do saber”, “Etiquetagem e apagamento das invenções singulares”, “Do “nada” fez-se Tutti”, mostram-nos isso.
Órbita não poderia estar melhor! Rômulo Ferreira da Silva, após aproximar o CIEN à prática dos cartéis, ensina-nos quais as bússolas que ele pode inventar em seu percurso de vida, revisitadas por ele recentemente, diante do dispositivo do passe. Rômulo recorta sua rica experiência de vida em três momentos do dizer: “Me inclui fora dessa”. Um ensinamento para todos nós!
Marisa Nubile, a partir de sua experiência na área educacional elabora os efeitos nela provocados pelo documentário A Infância sob controle, realizado por Marie-Pierre Jaury. Duas perguntas orientam seu trabalho: “O que o educador tem a ver com aqueles discursos?” e “Em que medida a escola é tocada pelas argumentações dos especialistas?”. Uma elaboração entre as relações entre os diversos discursos nos quais prepondera “o cientificismo que promete explicar o inexplicável e curar o incurável” e a nossa questão humana, como trouhumanos que somos. Leia no CineCien!
Boa leitura!
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Editorial – Agosto 2014
by cien_digital in Cien Digital #16, Editorial

Imran Qureshi, Foundations, 2006
Maria Rita Guimarães
Caro leitor e amigo do Cien Digital,
Este novo número traz dois importantes registros da vivacidade com que o CIEN no BRASIL trabalha: a permutação dos colegas que participam de sua Coordenação e o convite a que todos compareçamos à IV Tarde de trabalhos que será realizada em 23 de novembro de 2014, em Belo Horizonte, por ocasião do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, com o título: Trauma e real: o que as crianças inventam?
A permutação dos Coordenadores nos proporcionou nova oportunidade de apresentar, mais uma vez, os princípios de orientação do trabalho do CIEN, através do pensamento de cada participante das Coordenações – tanto daqueles que dão passagem aos estreantes, como desses. Sob a forma de ENTREvista, a palavra de cada colega privilegia um ponto de orientação de nosso trabalho.
Essa orientação você igualmente encontrará no Argumento para a IV Tarde de trabalhos, no qual se reitera que seja um valor “fundamental que os adultos acolham e propiciem as invenções, que tornam possível à criança, uma a uma, um laço com o social.”
Trauma Blitz? Este é o instigante título do texto de Eric Laurent em Apresentação. Você alguma vez pensou no trauma como um livro, como uma música e outras variações? Trata-se de leitura obrigatória, e, certamente, você se aproximará à ideia da experiência traumática que porta a dignidade, o valor da marca singular, tal como nos ensina Mercedes de Francisco, na rubrica ENTREvista.
Trauma e real são objeto do Dossier sobre o cotidiano das crianças e adolescentes nas escolas, desarrimados de apoio para encontrarem um lugar no Outro. Outro da palavra.

Frank Stella, Anabel, 1997
Philippe Lacadée está na rubrica Hífen, com um texto inédito que nos permite o privilégio de, através do ensinamento que nos traz, irmos puxando o fio teórico sobre a questão da vida escolar e seu insuportável. Um fio que pode, não apenas iluminar os impasses da Escola na atualidade, impasses que os trabalhos dos LABOR(a)tórios nos contam, mas, sobretudo, nos permitir localizar, em muitas situações, os momentos cruciais, momentos de risco vividos por jovens e crianças. A perspectiva que a IV tarde do CIEN nos oferece é a de discutirmos qual a modalidade de resposta poderemos oferecer às respostas “inventadas” pelos adolescentes e crianças, após identificá-las. Certamente vamos nos interrogar igualmente sobre os professores – “docentes doentes” – que se incapacitam de seguir sua responsabilidade de adulto em relação ao mundo – para nos lembrarmos de Hannah Arendt -, que se exerceria na função de saber escutar o que veicula a palavra pronunciada por seu aluno. Marion, a adolescente do caso relatado por Lacadée comete suicídio. A professora Martine Lachance, do filme Monsieur Lazhar, igualmente encontra sua saída pelo ato, o único que não falha, segundo Lacan. No CineCien, você pode ler as reflexões suscitadas por essa ficção, desde o ponto de vista de nossas colegas psicanalistas que mantêm grande proximidade com o universo escolar. Não passou desapercebido – como se poderá ler! – que a história contada no filme, mais além da experiência do suicídio, mais além de tratar a complexidade das relações da intrincada rede que forma uma instituição, mais que a elaboração de um luto, busca responder à difícil questão de como afrontar, em nosso ponto mais familiar, mais íntimo, aquilo que nos é estrangeiro.
Desejamos que as ideias apresentadas nesse número lhe permitam o entusiasmo necessário ao trabalho do CIEN!
Desejamos-lhe boa leitura !
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Editorial – Abril 2015
by cien_digital in Cien Digital #17, Editorial

Daniel Arsham, Sideways clock, 2012
Foto: Simone Catto
Maria Rita Guimarães
Caro leitor e amigo do Cien Digital,
Talvez a melhor maneira de lhe apresentar este número do Cien Digital, fosse simplesmente sugerir que você o abrisse, como quem abre um “Kinder Surprise“: uma surpresa, certamente aguardada, mas impensável! Tomemos outra perspectiva: se a evocação do Kinder Ovo veio fácil à cabeça por ser tempo de páscoa e vemos ovos de chocolate por toda parte, apelativos, atiçando os sentidos, sussurantes em nossos bolsos, é que aí, justo na face que se oculta sob a sedução do Kinder Ovo, reside nosso interesse de reflexão no momento. Chocolate? Não! Interessa-nos pensar a criança e adolescente como metáfora do Kinder Ovo, caso pensemos como Zizek que qualificou o famoso chocolate –aliás, de chocolate tem pouco- de metáfora da mercadoria. Assim, nosso assunto, porque é nossa preocupação, é com a criança/mercadoria. Se continuarmos na formulação de Zizek, que cita Lacan “Eu o amo, mas, inexplicavelmente, amo alguma coisa em você mais do que você mesmo, e portanto, o destruo”, temos a noção de objeto a, o agalma representado tanto pelo brinquedo que vem dentro do chocolate (no vazio material do ovo, como um “mais”) quanto pela criança como plus que colma a falta materna, o nada do desejo. A mercadoria perfeita porque ela mesma já é o suplemento capaz de satisfazer as expectativas idealizantes.
A criança no consumo, consumidora, consumida, saturada. Clic em Evento, leia e se inscreva na Jornada Internacional do Cien, cujo título é: Crianças saturadas.Você encontrará, junto ao Argumento, todas as informações de que precisará para estar conosco em 03 de setembro em São Paulo, por ocasião do Enapol. Se, rumo ao VII Enapol estamos às voltas com a temática O Império das Imagens, publicamos, na rubrica Hífen, a valiosa elaboração de Paula Sibilia: O passado editável – crise da interioridade e espetacularização de si – que nos ajuda a entender, se posso dizer assim, a efemeridade da experiência humana, constantemente deletável, nos tempos atuais.
Paula diz em seu trabalho: “Sempre há um espectador, um leitor, uma câmara, um olhar sobre o personagem que tira dele seu caráter meramente humano. E, para poder existir, ele precisa fervorosamente desse olhar alheio”.
A criança/adolescente foram descobertos pela publicidade como novo target, termo que designa o público de referência a que se destina a mensagem. Um estimulante e rigoroso estudo desse assunto você vai ler, com o entusiamo que o texto suscita, também em Hífen: Publicidade infantil: o estímulo à cultura do consumo e outras questões.
E o avesso dessa perspectiva, onde está? Leia a ENTREvista com Nina Krivochein, de onze anos, que nos ensina muito sobre como se pode ser uma criança que escapa às malhas da engrenagem contemporânea. Se a palavra contemporânea convoca a uma sociedade que vive baixo o império das imagens, a linda surpresa é conhecer como jovens de 13 a 16 anos, estudantes de uma escola municipal situada em uma região de “alta vulnerabilidade de Belo Horizonte”, reagiram ao encontro com a arte de Leila Danziger, na coleção: “O que desaparece, o que resiste”. Essa experiência está relatada em Labor(a)tórios, mas, lá, você encontra mais!
Por quais paradigmas se orientam e/ou se desorientam os jovens sob o império das imagens? A obs-cenidade já não conta mais com a barreira do prefixo obs, obstáculo que permitiria a delimitação mínima do privado? Postar foto nua no Facebook, em posição “ginecológica” é “natural” mas, o obs passa à fala. Falar disso é interditado? O texto O real do sexo, a imagem do corpo e seu consumo na adolescência nos deixa a questão.
Os integrantes do Laboratório Trocando uma Ideia nos relatam o que vivenciaram junto a “adolescentes do Centro de Internação que estão cumprindo medida com privação de liberdade por um período que varia de 06 (seis) meses a 03 (três) anos, e possuem, em geral, entre 12 e 18 anos. Eles foram convidados e aceitaram participar de “conversa sobre sexualidade”. Cada encontro, uma surpresa, no sentido da contingência.
Os escritos da experiência de Conversação dos Laboratórios do CIEN a cada vez nos reavivam o valor das palavras de Judith Miller:
A publicação escrita das transformações produzidas pela prática da Conversação, própria ao CIEN, garante um meio de proteção do dizer em relação ao Charybdeem Scylla contemporâneo que leva do amordaçamento à passagem ao ato.

José Bechara, Água Viva, 2015
Como finaliza a prática de um Laboratório? É Thaís Morais, do Maranhão, quem nos conta sobre a trajetória do Laboratório Guarnicé.
Vidademerda.com Uma localização que define, através da fala de uma adolescente do filme 17 filles, a vida que levam, mas sobretudo a vida de suas famílias. Querem, naturalmente, se libertar do asfixiante tédio que lhes acena no horizonte. Como respondem? Numa espécie de epidemia histérica, engravidam-se ao mesmo tempo, gestação de um poder tão espetacular que seus ventres adolescentes, carregados de objetos a como os brinquedos que recheiam os Kinder Surprise, parecem não ter que responder à lei da gravidade, tal como os vemos nas magníficas imagens dentro das claras águas em que se exercitam em grupo. Cristina Drummond, nossa colega da Escola Brasileira de Psicanálise , responsável pela coordenação da próxima Jornada da Seção MG, com o título: O que quer uma mãe, hoje? Maternidades no século XXI – faz uma análise do filme, conduzindo-nos, através de suas palavras, a uma análise do fato real ocorrido em 2008, nos EUA, na interpretação atual das irmãs cineastas francesas. Teresa Mendonça e Simone Pinheiro também nos apresenta sua contribuição ao debate, em indagações pelo sentido do ato adolescente via a maternidade. No Cine Cien!
Por fim, você notará que a equipe editorial do Cien Digital tem nova composição. Nossa querida colaboradora Fernanda Otoni de Barros-Brisset se despediu: nossos agradecimentos vão para além do tempo e trabalho conosco, para chegar às suas palavras ”estarei por perto.” E damos as boas vindas aos colegas que, a partir do número 17, integraram-se à equipe , com muito entusiasmo! Ana Martha Maia (RJ), Dário de Moura (MG), Margarete Miranda (MG), Nohemí Brow (PA) e Siglia Leão (SP).
Desejamos-lhe boa leitura !
Nota: o texto de Zizek , numa versão bastante reduzida, pode ser acessado em http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/identidade.html
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Editorial – Agosto 2015
by cien_digital in Cien Digital #18, Editorial

Helen Levitt, “New York c. 1943”
Maria Rita Guimarães
Caro leitor e amigo do Cien Digital,
Extra! Extra! Assim os antigos – parece que é uma espécie em extinção – vendedores de jornais – impressos, claro!, apenas eles existiam – anunciavam uma edição extraordinária, fosse pela tiragem avulsa, fosse por uma matéria capaz de provocar efeitos de leitura (e, claro! de leitores) e, às vezes, essa última era a razão da primeira, ou seja, de que houvesse uma nova tiragem.
O número 18 do Cien Digital gostaria de relembrar o grito Extra!, por se tratar de uma edição que queremos que lhe surpreenda pela agilidade dos textos curtos, pelo frescor de muitas formulações que encontramos em seus textos e, por que não dizer? – pela notícia em primeira mão – ( linguagem daquela época: hoje como dar notícias em primeira mão, em tempos de tempo real? ) Em tempo real soubemos que, por ocasião do PIPOL 7, em Bruxelas, Claudine Valette-Damase, Presidente do CIEN Francofono convidou a todos: um encontro irrecusável na Livraria do evento para lançamento da brochura “Des enfants parlent! Et ils ont de quoi dire’, edição em francês do livro “Crianças falam! E têm o que dizer” publicado pelo Cien-Brasil.
Não é uma notícia que toca a comunidade de trabalho do Cien no Brasil? Leiam a nota completa, escrita por Ana Lydia e Fernanda Otoni, organizadores do livro “Crianças falam! E têm o que dizer”.
Mas este número do Cien Digital também insiste em convocar cada um de seus leitores ao debate sério, vigoroso e atualíssimo que o Cien propôs para sua VII Jornada Internacional que acontecerá em 3 de setembro, em São Paulo. Crianças saturadas é o anúncio emblemático dos sintomas contemporâneos que se manifestam na vida cotidiana de todos nós, em grande parte sob o manto de graciosa inocência ou da tirania da felicidade1. Ou, por que não dizer?, sob o manto da biopolítica, tal como foi proposto por Foucault.
A gestão da população, inclusive se consideramos as estruturas governamentais que, cada vez mais, tomam a seu encargo questões até então situadas como sendo de natureza privada ( por exemplo, a determinação judicial que “avalia” as condições dos estragos do desejo materno para ratificar ou retirar a condição de mãe junto à criança ), revela-se particularmente destinada às crianças.

Bruce Nauman, Five Marching Men, 1985
Trata-se de uma gestão técnica sob o imperativo da mais absoluta objetividade e objetalidade do ser falante.
“Sim, “Simplesmente, faça-o!” parece hoje a fórmula, tão vazia quanto imediata em sua formulação, com que economistas e políticos, higienistas e científicos alimentam, muitas vêzes, o imperativo do Supereu.” Essa afirmação de Miquel Bassols, – convidado internacional para a Jornada do Cien – ilumina o contexto atual no qual “a economia de nossa época e seus fracassos parecem seguir um roteiro escrito linha por linha por uma instância tão obscena e feroz.” As citações estão no texto que você poderá ler agora, no Hífen, e se chama A voz do Supereu: Just Do It!
Lucíola Freitas de Macêdo, membro da Coordenação do Cien Brasil, também está no Hífen, com o texto Imagem e significante: enlaces e desenlaces. Já teríamos nos perguntado sobre o que advém das novas tecnologias digitais como efeito na prática da palavra? É impossível não ter pressa para lê-lo, até porque a autora nos introduz em sua argumentação por um acontecimento em tempo real, cuja cena está acessível no You Tube.
Cristina Drummond coordena a XIX Jornadas da EBP-MG, O que quer a mãe hoje?, e ENTRE-vista foi registrar suas ideias e reflexões na interface dos campos anunciados pelos títulos das duas Jornadas. A primeira pergunta já indica um link a ser pesquisado: Você encontra uma relação entre o estado de saturação das crianças e o modo como as mães educam seus filhos hoje?
Crianças Amos? Vejam como elas nos são apresentadas por Adela Fryd em seu artigo publicado no Papers 9, do qual trazemos uma resenha escrita por Margarete Miranda.
Na clínica deste novo século, é frequente encontrar crianças que são mais amos que seus pais: crianças que se situam numa paridade assombrosa frente a qualquer adulto. Trata-se de sujeitos que já desde os dois ou três anos, parecem não responder a ninguém.
Um amo absoluto para nossas vidas chegou para ficar: a chamada Internet das Coisas ( IoTS – Internet of Things and Services ) vai muito além da conexão dos computadores, smartphones, etc, mas potencialmente é capaz de ligar todos os objetos existentes no mundo. De fato, o “tecnopoder” se instala em todos os setores da vida humana, desde a possibilidade de que sua geladeira indique quais os alimentos que estão faltando aos terrores noturnos das crianças que desaparecerão através de um gadget conectado ao smartphone dos pais. Nesse contexto, surge a Hello Barbie! Leia o texto de Maria Rita Guimarães e opine sobre a nova Barbie.
A rubrica LABOR(a)tórios apresenta algumas de suas atividades em pequenos extratos, em um convite a que não deixe de participar do trabalho do Cien nas várias possibilidades abertas pela inter-disciplinariedade. Boa leitura!
Desejamos-lhe boa leitura !
Notas:
1 Conforme o título de um texto de Graciela Brosky

Editorial – Março 2016
by cien_digital in Cien Digital #19, Editorial

Folkert de Jong, Les Saltimbanques, 2007
Maria Rita Guimarães
Caro leitor e amigo do Cien Digital,
O Centro de Investigação e Estudos da Infância e Adolescência – CIEN – tal como está indicado no título em português, mantém o adolescente como objeto de sua pesquisa e prática, orientado pela “concepção que Jacques Lacan tinha das diferentes tarefas que esperava do psicanalista de suas Escolas, para estar, ele disse, à altura de seus deveres no mundo”, como nos ensinou Judith Miller.
Nessa orientação, nada mais esperado que os efeitos de entusiasmo entre todos que participam e trabalham em prol do CIEN, produzidos pela intervenção de Jacques-Alain Miller no ato de encerramento da 3a Jornada do Instituto da Criança, pronunciada em 21 de marco de 2015. Pouco depois, em 5 de abril, domingo de Páscoa, ao escrever o prefácio do livro de Damasia Amadeo Freda, ele mesmo se referirá àquelas considerações, deixando-nos, em Nota bene, importantes referências para a continuidade da pesquisa Em Direção à Adolescência. Essa intervenção de Miller convida ao trabalho, logo aceito por Ana Lydia Santiago, a quem agradecemos muito a contribuição e a possibilidade de publica-la. Ela nos aporta os pontos essenciais retirados de sua leitura da orientação de Miller, em duas vertentes:
- Os aspectos clínicos da adolescência
- A adolescência na clínica do parlêtre.
Já estamos, portanto, com a pesquisa em andamento, e ainda mais nos animamos por ser, certamente, o tema de trabalho de várias seções da EBP, tal como será para a XX Jornada de Psicanálise-EBP-MG, cujo título, já anunciado na Agenda/2016, é: jovens.com: corpos e linguagens, a se realizar em 02 e 03 de setembro de 2016.
Mas, o que é a adolescência ?
A essa pergunta, Miller[1] responde “que nenhuma definição é unânime. O que é certo existir, seguindo Freud no texto Três ensaios, é a puberdade.” Miller utiliza duas expressões que determinam limites temporais para distinguir adolescência e puberdade:
Terminus a quo que se refere a uma temporalidade a partir da qual se começa a contar um prazo, é referido à puberdade.” A puberdade é o terminus a quo da adolescência. Tem uma realidade cronológica”.
O terminus ad quem não possui tal qualidade cronológica, portanto, se há uma realidade para a adolescência, trata-se de uma realidade sociológica. Não se sabe quando a adolescência termina, a não ser seguindo o que dela fala a sociedade.
Através de Em direção à adolescência[2] soubemos do livro de Epstein: The case against adolescence. Se seguimos Miller diremos que se trata de um slogan simpático. Aqui você poderá ler o escrito de Alexandre Stevens, que leva o mesmo título do livro, amavelmente cedido para essa publicação, no qual Stevens faz uma análise rigorosa do pensamento de Epstein. Ele destaca que para o autor há grande infantilização dos teenagers e que tal fato se acha na origem dos fenômenos que surgem na adolescência. É o que nos está confirmado por Miller,[3] ao dizer que Lacan “não está distante dessa ideia, atento como estava aos signos da “intromissão do adulto” no jovem.”
Gregory Euclide, All of your diamonds slipped green points into the ease of not knowing, 2012
Ainda sobre o pensamento de Epstein, não deixe de ler a contribuição de Ana Martha Maia que destaca o argumento do autor para a afirmação de que a adolescência é uma construção cultural e, igualmente, a ideia dele sobre a responsabilização dos jovens. Ao avesso da infantilização dos teens, uma prática realizada por Paula de Paula, a partir de parcerias institucionais, nos dá o testemunho de como a causa psicanalítica orienta na aposta do desejo do sujeito. Uma intervenção junto aos jovens, em escolas de Belo Horizonte, fundamentada na política do desejo de Freud e Lacan.
Ah, Freud igualmente está conosco através de sua intervenção na reunião de trabalho das quartas feiras, em Viena: exatamente na reunião de 13 de fevereiro de 1907. Tema? O despertar da Primavera, de Frank Wedekind. Uma frase que nos chama a atenção para o que se antecipa à problemática da inadequação sexual: “…direi, e sublinho isso, que as teorias sexuais das crianças constituem um tema que merece ser estudado como tal, ou seja: como as crianças descobrem a sexualidade normal?”
Domenico Cosenza, a quem igualmente devemos agradecimentos não apenas por sua autorização a Cien Digital, mas sobretudo pela precisão de seu ensinamento, nos diz: “O enigma que constitui o inconsciente do sujeito entra assim em jogo no coração do processo de iniciação sexual do adolescente” e classifica esse fato como primeiro tempo lógico, onde existe relação sexual, que é representável em uma cena que inclui o sujeito. Duas perguntas fundamentais: como o adolescente acede a esse primeiro tempo lógico na atualidade? Se não for possível, – agora que já não há véu em torno do enigma- há chance para o segundo tempo lógico -, que seria a inexistência estrutural do papel sexual?
“Do jogo com o véu ao véu arrancado”, de Christiane Page e Laetitia Jodeau-Belle, é extraído – com a gentil autorização das autoras – do livro delas, “A não-relação sexual na Adolescência”, que vai de mãos dadas com o texto de Domenico Cosenza, num diálogo que nos propõe a reflexão sobre a sexualidade do adolescente contemporâneo. As autoras demonstram como os dramaturgos, os cineastas, de Wedekind aos da contemporaneidade, percorrem a temática da não-relação sexual. No entanto, se o “véu levantado não mostra nada” corresponde à época de Wedekind, na atualidade não é assim. Em nossos tempos, com o véu levantado verifica-se a ascensão do objeto na cena. “Questão de época”.
Que palavras e ensinamentos nos trazem duas psicanalistas,cada uma autora de livro recente sobre adolescentes, entrevistadas por Cristiana Pittella para essa edição? Hélène Deltombe, autora de Les enjeux de l’adolescence e Damasia Amadeo Freda, autora de El adolescente actual, com suas respostas às questões que lhes foram endereçadas, nos deixam um fecundo campo de trabalho.
Os Laboratórios do CIEN têm sua prática onde for que uma demanda de trabalho junto aos adolescentes aconteça. Como as questões dessa prática se apresentam complexas e delicadas, exigem rigor, cada vez mais, em seu debate. Virgínia Carvalho nos deixa um elenco de perguntas que nos colocam na tentativa de respondê-las fazendo jus “à altura de nossos deveres no mundo”.
Desejamos-lhe boa leitura !
Notas:
1 MILLER, Jacques-Alain. Prefácio ao livro El Adolescente actual de Damasia Amadeo Freda. Bs. As. Unsam Ed. 2015.
2 _______________ Em direção à adolescência, acesso em http://minascomlacan.com.br/publicacoes/em-direcao-a-adolescencia/
3 O. citada, p.12.

Editorial – Outubro 2016
by cien_digital in Cien digital #20, Editorial

Alexandre Sequeira
Maria Rita Guimarães
Caro leitor e amigo do Cien Digital,
Este número que agora lhe oferecemos, consagra-se a nos levar por trilhas poéticas e, às vezes, também tortuosas, ao redor dos significantes convocados pelo tema da adolescência: desejo, solidão, laço social. São significantes presentes nos títulos do XXI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano – Adolescência, idade do desejo , cujas informações você encontrará no link: http://www.encontrobrasileiro2016.org e da V Manhã de trabalhos do Cien Brasil, Adolescência, Solidão e Laço _ informações, além do site, aqui mesmo! Fazemos-lhe o convite para que se agende já, inscreva-se e esteja conosco em São Paulo em novembro deste ano.
Você decide por onde começar o percurso, mas uma pista é você se deixar guiar pela frase de Jacqueline Dheret, nossa entrevistada: A marca da adolescência é o mais fora da norma de cada um que emerge e que ainda não tomou a forma de sintoma.
Até encontrá-la, leia Biografia não autorizada de um jovem infrator, escrita por nosso querido consultor Célio Garcia, sempre atento e dedicado aos temas dos jovens, sobretudo naquilo que podemos situar como “fora da norma de cada um”. É o ponto essencial do trabalho feito pelo CIEN. O texto de Síglia Leão é orientador em relação à ética dessa prática que visa a possibilidade de abertura ao desejo do sujeito em questão.
A precipitação das mudanças corporais, tudo aquilo que se desorganiza pela irrupção pulsional, evoca o lugar privilegiado que assume o corpo na passagem pela puberdade/adolescência, mais além da importância do espelho. Alexandre Stevens considera várias modalidades de Fazer-se um corpo na adolescência, valendo-se de Joyce, Rothko e Balzac. Parada obrigatória!
LABOR(a)tórios de Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo apresentam as reflexões que sustentam o desejo circulante na prática do CIEN. É nesse espaço de entusiasmo rigoroso e levando em conta as soluções aliviadoras e/ou mortíferas/adormecedoras, que os adolescentes inventam para irem da solidão estrutural ao laço social/sexual, que os trabalhos de Ely Silva, Nádia Laguárdia /Claudia Generoso e Margaret Diniz, cada um à sua maneira, devem ser lidos em Contribuições. O Cien Brasil compreendeu logo de início que a narrativa fílmica sempre flertou com o tempo de travessia do ser falante, no intuito de presentificar o sintoma que a adolescência pode incarnar em nosssa sociedade. Cinecien se ocupa de trazer para o debate as manifestações sintomáticas manifestas no despertar da sexualidade e quais os discursos presentes na abordagem do gozo em foco. XXY é um filme argentino, de 2007. Trata-se de Alex, adolescente de 15 anos, que possui os caracteres primários masculinos e femininos: a intersexualidade é seu segredo assim como o de sua família. Comentários sobre o filme e sobre a Conversação que se seguiu à exibição? Vai lá, na rubrica Cinecien! E também se fala de XXY no Ponto de Vista, texto que costura a proposta de pesquisa do Cien em andamento no semestre – O que é ser homem? – tecendo os pontos : eleição de sexo, eleição de gozo.
Boa leitura!
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