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Editorial – Janeiro de 2022

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Mônica Campos

Caros leitores, é com satisfação que apresentamos, no 24º Cien digital, a II Conversação do CIEN América que ocorreu em setembro de 2019. Um trabalho realizado com a interlocução da Fundação do Campo Freudiano e a presença viva de Ève Miller-Rose.

Com a temática: “A Criança violenta e a dignidade do sujeito”, esse encontro se fez por uma articulação central das Redes do Campo Freudiano sobre a Infância. Se uma conversação do CIEN acontece quando cada um pode inventar, “arriscar-se a colocar em palavras a sua singularidade” (Indart), a participação na II Conversação do Cien América, dos laboratórios do Cien Brasil e Cien Argentina, permitiu ir além e verificar os princípios do Cien como estabelecidos por Judith Miller.

A partir da cena contemporânea, em que as crianças e os jovens, sensíveis às modificações no laço social são as que orientam o campo de investigação do CIEN, extraiu-se a questão: “como ser receptivos aos diferentes modos de resposta sintomática dos jovens e das crianças?”. Como orientação, veremos nos textos apresentados que a aposta do CIEN é na política do sintoma como invenção, ou seja, inventar um saber fazer.

Como vocês poderão constatar, o fruto deste número provém da prática singular de cada laboratório. Uma verdadeira conversação para realizar a II Conversação do Cien América.

Para iniciar, teremos a intervenção de Paola Salinas no lançamento da Revista “El nino”, nº 15, “Dignidade, um significante em rede”, em que esclarece a importante torção deste termo para que seja possível acolher o singular de cada um.

Ao entrarmos na II Conversação do Cien América, em sua abertura, Mônica Hage lembra o Ato de Fundação, no qual Lacan define que deveria existir, além das seções de psicanálise pura e de psicanálise aplicada, uma seção que ele denominou de “Recenseamento do Campo Freudiano”, lugar em que poderíamos incluir o Cien.

Para além, através de cada testemunho dos laboratórios do Cien aqui recolhido, será possível localizar os efeitos do dispositivo da conversação que, mantendo o espaço vazio de saber, destaca as respostas e invenções da criança, do adolescente, bem como daqueles que trabalham com eles. Isto é, frente aos discursos da saúde, da educação, e do jurídico, entre outros, veremos as possibilidades de construção de saídas e soluções singulares frente aos impasses relatados.

A questão “o que é que se faz ouvir na contemporaneidade?”, presente no argumento, está também nos trabalhos apresentados, fazendo-nos perceber que as crianças e os jovens fazem-se ouvir com as suas respostas e são a bússola num tempo perturbador.

Deste modo, a partir dos trabalhos, “Quando uma história vinda de uma criança toca profundamente”, laboratório Niños y Adolescentes Violentos: Nacidos para molestar? (CIEN-Ushuaia, Terra do Fogo/AR); “Crianças terríveis”, laboratório A criança entre a mulher e a mãe (CIEN-RJ/BR); “A porta fechada”, laboratório Ciranda de conversa (CIEN-PR/BR); “Vazio e Invenção: Liga contra a briga”, laboratório O saber da criança (CIEN-SP/BR); “Eu não te conheço: ensaios sobre possíveis saídas”, laboratório Infancias estalladas (CIEN-BsAs/AR); “Do sem direção ao todo ritmo: apostas à modulação do movimento”, laboratório Apuestas a la eficacia en los márgenes (CIEN-BsAs/AR); “‘Trevas’ na educação?”, laboratório Docentes-Doentes: deixe-os falar! (CIEN-MG/BR); “Quando portas se fecham, Janelas se abrem: Um olhar sobre um dispositivo clínico de Belo Horizonte”, laboratório Janela da Escuta (CIEN-MG/BR); “Reconquistar como sujeito a dignidade de seu sintoma”, laboratório Infância Errante (CIEN-RJ/BR); “Invenções no fio da lei”, laboratório Al filo de la ley (CIEN-BsAs/AR); “A Conversação diante da ‘política do para todos’”, laboratório Pipa Avoada (CIEN-RJ/BR), verificaremos que cada experiência transcrita neste número demonstra o lugar do Cien como uma prática que opera no lugar em que a segregação e a homogeneização se apresentam como saída para um embaraço. É neste contexto que se pode recolocar a questão que consistiu o mal estar, produzindo um furo, desviando das vias protocolares e burocráticas.

Outro ponto sensível localizado na II conversação do Cien América, “como pode o CIEN trabalhar justamente no fio da lei?”, marcará a diferença entre acompanhar a solução do sujeito e dar a direção. Nessa medida, os trabalhos apresentados trazem como a conversação descola do universal, do bom para todos.

É possível extrair dois significantes que constituíram e nortearam a construção desse trabalho: a conversação e a transmissão. Em outras palavras, como transmitir aquilo que se realiza nos laboratórios, como a possibilidade de afetar o outro e transmitir o que é próprio do fazer do CIEN.

Para encerrar, poderemos constatar, como nos diz Beatriz Udenio que a atualidade do Cien traz novidades, novos modos de laços, bem como algo sobre a alegria do Cien. Por sua vez, Paola Salinas destaca a dimensão da transmissão, ou seja, em cada novo laboratório e em cada conversação é que se constitui o lugar para a invenção, sem uma condição prévia que garanta.

Convidamos a todos a consentir em ser tocados pelas experiências do Cien, pelas suas ressonâncias e novas questões que esse encontro produziu.

Boa leitura!

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