
“Prega” leve no mundo do furor dominandis
by cien_digital in Apresentação, Cien Digital #14
Fernanda Otoni Barros-Brisset
“Tá dominado, tá tudo dominado”1, canta o funk na língua dos adolescentes, num mundo “dominado” pelas políticas de gestão das populações, pelas leis de mercado e utilitarismo cientifico. O controle da qualidade dos serviços, dos riscos, das pessoas, das famílias, parece visar o controle do futuro, sobretudo, através do etiquetamento e vigilância permanente sobre a infância. Mas, por outro lado, crianças e adolescentes demonstram que, no real, o que não cessa nesse mundo é o espaço de um lapso. Por essas brechas, furam o cerco que lhes fora destinado e inventam suas saídas para tirar o corpo fora da dominação geral.
Nos dias que correm, em resposta ao impossível de controlar, a fábrica das etiquetas trabalha sem parar. Às vezes, nem colam mais. A pulsão que não se deixa controlar, segue seu curso decididamente, perturbando a ordem geral, seja na sua forma criativa ou mortífera.

Tom Burr
Uma musicista infantil interroga na conversação do laboratório aFINARTE2: “Hoje ensino música como antes, mas porque os alunos não aprendem?” A resposta da patologia mental do aluno já não a convence. E quanto mais o amo insistir em enquadrar o fazer dos jovens nas etiquetas à disposição, por exemplo, classificando a sua arte como pixação ou grafitagem, mais a resposta pode ser surpreendente: “Sim, eu grapixo!”
O mundo do furor dominandis está em crise e as crianças sabem!
O traço da política do CIEN – As vinhetas levadas à conversação da III manhã de Trabalhos do CIEN Brasil, “Furando as etiquetas – O traço da política do CIEN”, que aconteceu em novembro de 2012, em Salvador, demonstram-nos que, à medida em que se verifica, nas instituições concernidas ao cuidado da criança, o que Lacan chamou dos impasses da civilização, ali um psicanalista deve se apresentar, convidando cada um a tomar a palavra para falar mais sobre isso. Eis a forma analítica de dispensar o aprisionamento ao discurso do mestre contemporâneo para dar lugar ao saber fazer de cada um. O CIEN encontra aí seu lugar como invenção, ao prescindir do formalismo do setting sem prescindir da experiência analítica nas conversações que ocorrem nas instituições que se ocupam das crianças e adolescentes. Através dos laboratórios do CIEN, a psicanálise conversa com os outros discursos, com o Outro de sua época, sem se deixar engolir por ele, abrindo alas para soluções singulares lá onde governam os significantes universais.
Aqui e acolá, encontramos laboratórios de antenas bem ligadas à variedade das práticas com as crianças de hoje. Lá, recolhem o impasse inter-disciplinar frente à criança que fala com seu corpo agitado, calado,perturbado, desobediente, irreverente, esquisito, armado e, tantas vezes, etiquetado pelos diversos discursos que dela se ocupam. A presença viva da oferta do CIEN faz abrir, na rotina do trabalho inter-disciplinar, um intervalo para conversar.
O bom uso das etiquetas

Bansky
A experiência analítica ensina que é ao falar que a inconsistência do discurso se apresenta, que os amos caem do trono, que o nó da crença nas etiquetas e protocolos se desata. Os manuais do controle, feito de protocolos e etiquetas, mais cedo que tarde, tendem a mostrar que não passam de semblantes de nossa época. O bom uso do semblante não se deixa colar, “prega” leve, aguardando a contingência da enunciação por vir. O saber autêntico da criança torna-se nossa bússola para ler o real, no momento atual.
Quando um adolescente foi suspenso de participar do laboratório SELEX3, sob a alegação de que outros adolescentes poderiam estar armados e não haveria como garantir a segurança, conforme reza o protocolo, o embaraço se instalou, até que uma enunciação esclarecida trouxe uma orientação para tratar o impasse. “Nossa arma é a conversa”. Lembrei-me do desejo decidido do colega Celio Garcia de que um dia o jovem pudesse largar suas armas e tomar a palavra.
O CIEN faz acontecer o intervalo, a abertura ao instante de ver os furos incrustados no tecido da norma rígida, no panneau das etiquetas médico, legais e sociais. Um psicanalista ali, dentre tantas vozes, ao fazer escutar um tom e outros, abre lugar para alojar o som inaudível e vibrante do desejo de cada um. As soluções são sempre sem par e inéditas, como cada conversação no CIEN testemunha.
Afinal, a conversação dos laboratórios do CIEN Brasil deixa saber que crianças e jovens inventam suas etiquetas, a boa etiqueta que lhe serve sob medida, um por um, surpreendendo o mundo com seu modo singular de traduzir o seu mais íntimo inclassificável. O que hoje está na ordem do dia, outrora foi o avant, vanguard. A criança vem na frente, a juventude é sempre vanguarda. O jovem fala, pensa, ele inventa moda. Isso se mostra e se demonstra por toda parte, na escola, na rua, nos hospitais, nos tribunais, desde que haja pelo menos Um disposto a escutar o saber da criança sobre o real de sua época e os impasses que lhe concerne.
“Me inclui fora dessa – a bússola que cada um inventa”
Se a III manhã do CIEN mostrou, de modo vívido, como um laboratório orientado pelo saber da criança frente aos impasses de seu tempo, sua transmissão nos permite, agora, dar um passo adiante. Avançemos rumo ao Encontro Internacional do CIEN, em Buenos Aires.
As ressonâncias da Conversação de Salvador fizeram-se ouvir no argumento que preparamos para vocês, como poderão ler a seguir, no espaço Hífen. Em especial, pretendemos com isso convidar você a enviar
sua vinheta para esse encontro, cujo tema “Me inclui fora dessa – bússola que cada um inventa”, diz de nossa aposta nas invenções das nossas crianças e adolescentes, no seu saber fazer, em sua decisão apaixonada pelo futuro, se servindo do mestre (me inclui) ao prescindir dele (fora dessa) – traço fundante da juventude de cada época.
As crianças e jovens são o futuro; cabem à eles inventar as suas saídas para os impasses atuais visando o futuro que lhes aguarda. Passemos então a palavra a eles. Eles inventarão, à sua maneira, uma nova resposta, eis aí a sua cota de responsabilidade. Uma nova geração está falando com seus corpos, com seus sintomas. Escutemos, eles portam o saber autêntico em condições de inventar a bússola que nos levará ao amanhã.
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Argumentum, fazendo brilhar o recorte
by cien_digital in Apresentação, Cien Digital #15

Enrico Castellani, Superficie grigia, 2002
Graciela Chester
Beatriz Udenio
Como abrir possibilidades, nos diversos lugares que habitualmente recebem as crianças e os jovens_ escola, clube, família, outros_ a que os adultos se mostrem atentos, sensíveis ao discernimento dessas modalidades de recusa, convidando, esperando que se aproximem, cada um a seu modo, para construir sua própria maneira de fazer, aquela com a qual irá nortear sua vida?(Extrato do Argumento para a Jornada do CIEN, 20 de novembro de 2013.)
A que chamamos adultos atentos, sensíveis ao discernimento das modalidades de recusa, que convidam a que cada um construa sua maneira de fazer?
A experiência dos laboratórios do CIEN e daquilo que ali se cozinha – como gostamos de dizer – converte-se numa vasilha de achados.
Porque a surpresa não vem somente quando uma criança “nos faz chegar” sua invenção, para que saibamos lê-la como tal. Essa surpresa é uma sacudidela e nos envolve ainda mais, quando isso que chamamos “a atenção sensível do adulto” nos leva a nos desalojarmos do costume, do habitual, das referências que nos guiaram tradicionalmente.
Porque a recusa não é exercida somente sobre a criança: quantas vezes é exercida sobre os adultos que dão um lugar a estes inventos, fora dos circuitos chamados convencionais? Entende-se por esses circuitos tradicionais os modos sustentados na ordem dos ideais, cuja bússola já não nos orienta como antes.
Por esse motivo, leva-nos a analisar o impacto que teve essa experiência para cada pessoa que por ela passou, mas também nos empurra à fonte, uma e outra vez, ao ponto fundamental do CIEN: um vazio de saber onde se experimenta a eficácia de uma Conversação.
“Mas, para isso, é preciso saber observar,
ouvir essa subversão à flor da pele.”
Extrato do Argumento para a Jornada do CIEN
20 de novembro de 2013
Beatriz Udenio
Detenho-me na frase que recortei do argumento da Jornada do CIEN.
Duas coisas me convidam a um esclarecimento.
Uma, que saber advertir implica ouvir, e que ouvir não é apenas uma operação de escuta de palavras audíveis. Ouvir introduz a possibilidade de escutar os ruídos, os estrondos, os barulhos, mas também o que “ressoa” nos corpos inquietos, trovejante, fustigando, “à flor da pele”. Ouvir se torna leitura de signos no audível ou naquilo que nos é dado a ver.
Read moreDe como escutei a expressão me inclui fora dessa
by cien_digital in Apresentação, Cien Digital #15

Instalações clandestinas de energia – “gatos”1
Texto: Celio Garcia
Ilustração: Dário de Moura
O Historiador deixou de comemorar a data de aniversário, passou a se interessar, ao invés disso, ao lugar da memória. Senão na maneira de falar, qual é o caso, em se tratando do jovem infrator? (Ely não se esqueceu da data em se tratando da história do jovem infrator, a sua instituição).
Começo pela expressão me inclui fora dessa. A periferia como lugar de memória do jovem infrator, onde dá prova de grande criatividade.
Senão como entender o presentismo? A sua gíria não é mistério para ninguém. Em relação à sintaxe ele inovou definitivamente, não se limitando à gíria, ao vocabulário. Como sabemos, é mais fácil inventar no que concerne à gíria, ao vocabulário.
De tal forma o jovem se mostrou inovativo, em se tratando de infração, que retomei essa questão, pois me encontrava na Escola de Engenharia (UFMG). Como se sabe, ela dispõe, para fazer face a toda e qualquer infração, de um método científico. Pois bem, adotei um modelo geral de infração aos científicos algoritmos, como prova de criatividade.
Outro dia, por ocasião das demonstrações, surpreendi-me com esta frase: “você está louco”, ao se dirigir, _ o jovem infrator _ao vândalo, que iniciava a sua exibição da performance, começando a quebradeira de vitrines das lojas. Como se, ao dizer “você está louco”, se distinguisse, se separasse do vândalo, permanecendo na sua originalidade como jovem infrator. Como não tiveram uma infância, sabe de tudo muito cedo. Passaram à idade adulta muito cedo, não tiveram adolescência, isso é coisa de rico.
Como se você dissesse que uma prova do desaparecimento da adolescência faz com que se pense no rebaixamento da idade penal. É a velha história: Escrever certo por linhas tortas.
“Nasci pra ser livre?” Foi a primeira frase que escutei no momento da rebelião, na instituição onde ocorria a rebelião. Encontrava-me com minha colega Fabíola, estávamos a dois passos da tranca. Através da grade, da tranca, não poderia haver engano, era bem isso que um menino gritava: nasci para ser livre.
Memória do jovem infrator ,encontrei desde cedo, através de um funcionário da seção das antigas, que mostrou a documentação reunida por ele, espontaneamente, em fotografia 3/4. Os meninos que haviam passado por aquela casa e já tinham morrido, era um monte de fotografia ?! Como sabemos jovem infrator morre cedo!
O sistema é formado pelas instituições, o sistema ignora tudo de real com relação ao jovem infrator, o sistema está acima de tudo, não tem a mínima condição de saber o que realmente se passa com o jovem infrator, é um estranho para ele. Nosso ECA não resistiu à pressão do sistema. Passou a figurar o sistema como única referência.
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Crianças falam! e têm o que dizer – Experiências do CIEN no Brasil
by cien_digital in Apresentação, Cien Digital #15

Crianças falam! e têm o que dizer.
Apresentação do livro
Fernanda Otoni Brisset1
Durante um jantar, alegria e entusiasmo temperavam nossa conversa em torno da inventividade das respostas das crianças possíveis de serem lidas na experiência inter-disciplinar de laboratórios do CIEN no Brasil. Foi quando sonhamos em recolher, numa coletânia, a orientação lacaniana que anima esta experiência, a partir de vinhetas e conversações entre laboratórios. Judith Miller, naquela ocasião, disse-me: “As crianças falam!” Os laboratórios do Brasil, de forma clara, trazem o saber vivo das crianças, sua pontualidade real e autêntica. “Isso é o CIEN!” Decidimos publicá-la!
Reunimos uma comissão editorial responsável por recolher vinhetas e conversações. Desta comissão, Ana Lydia Santiago, Judith Miller e eu, tornamo-nos responsáveis por cuidar da edição e organização da obra. O projeto foi-se desenhando, aos poucos, a partir da leitura das vinhetas que iam chegando, impasses inéditos brotavam das experiências dos laboratórios, de norte a sul do país. Estabelecemos conversação viva com os autores, via email, telefone, skype, what’s up e surpreendentemente, vimos acontecer, no decorrer dessas conversas e em seus intervalos, as enunciações singulares que deram forma a esse livro.
Animadas pelo entusiasmo desse acontecimento, seguimos suas pistas, extraímos o ouro dessa experiência. Decidimos apostar na forma clara, simples e viva de contar a experiência e oferecê-la ao alcance de todos aqueles que se ocupam da criança e do adolescente, hoje. Procuramos publicar nesse livro uma formalização do que no Brasil se realiza de forma única, como experiência inter-disciplinar do CIEN. Uma formalização que prescinde das elocubrações teóricas, na condição de se servir do saber autêntico que brota da experiência. É um livro de experiências, como ensina a prática dos laboratórios do CIEN.
Afinal, o momento atual não está para brincadeiras e toda criança sabe disso. A psicanálise de orientação lacaniana não recua face aos impasses de seu tempo. Fizemos desse livro um testemunho vivo de que é possível ler o que a criança sabe e tem a dizer sobre a infância hoje.
No embalo desse entusiasmo, com muito prazer apresento ao leitor pedacinhos dessa obra recheada com o desejo de CIEN.
Boa Leitura!
O que pode a psicanálise na era das crianças sob controle!
Hoje, as crianças solitárias passam muito tempo na Internet, discutindo ou jogando em rede, ou diante da televisão. Todas essas telas olham essa infância negligenciada, ocupam-se dela e instalam uma dependência que a criança vai encontrar, novamente, quando estiver maior, nas ofertas dos mercados de drogas adaptados à adolescência2.

Lynda Benglis, Scorpius, 1982
Vive-se, hoje, em torno de um mercado diversificado, em que “cada um goza sozinho com sua droga”3 – Internet, Facebook, trabalho, esporte, sexo, alimentação, objetos de consumo da mais nova geração e outras. A própria criança, exposta como objeto de gozo desta época, encontra lugar em tal lista, como algo a ser protegido, cuidado, vigiado e controlado – um objeto precioso. Assiste-se à compulsão generalizada para assegurar os direitos e o interesse maior das crianças. Esse “espírito zeloso” para com “Suas Majestades, os bebês” serve-se de protocolos de conduta a fim de garantir a qualidade da gestão desses corpos e de uma série de regulamentações, cuja visada final é controlar a produção e desenvolvimento das crianças.
O mundo em que o gozo está em primeiro plano é um mundo com dificuldade de encontrar seus limites. Haja vista os sintomas atuais, cuja força pulsional perturba o laço social. Diante dessas respostas, o discurso das burocracias sanitárias e os programas educacionais do Governo “apressam-se a responder a essa urgência, propondo a aprendizagem comportamental para todos como único remédio”4. Entretanto essa urgência que passa a reger a lógica política de uma sociedade de vigilância e controle, fazendo suas injunções precisamente no campo das pulsões, “tem consequências irrespiráveis para o que chamamos de humanidade”5 e impõe à psicanálise apresentar sua responsabilidade política no século XXI. Que podem os analistas?
Desde os primórdios, a psicanálise recolhe seus efeitos exatamente por destituir a crença na solução universal, nos imperativos da tradição, no pensamento único, diluindo as identificações em massa e sustentando a vitalidade de um furo operante. É tarefa dos analistas fazerem falar os impasses da civilização e, no ponto em que vigora a fórmula “para todos”, realizar a subversão necessária, para dar lugar à solução de cada um.
Operar como “pulmão artificial”, nas palavras de Lacan, implica abrir lacunas para passagem no falar de um gozo singular, assegurar o direito dos sujeitos se manterem vivos, ao diluir o poder asfixiante e normatizador que rege os dias atuais. Trata-se de convidar a falar, a praticar a associação livre inaugurada por Freud, visando liberar respiradouros ante as “avalanches das exigências do mestre contemporâneo”6. A aposta é a de que, por essas aberturas, possa emergir a potência inventiva e subversiva que advém do mais singular de cada um. Por essas veredas, o Cien apresenta-se como um dispositivo da ação lacaniana!

María Magdalena Campos-Pons, “Not just Another Day”, 19997
O Cien: um pulmão artificial
Como ensina Judith Miller8, “o Cien é uma dessas instâncias que resultam da concepção que Lacan tem das diferentes tarefas que ele espera dos psicanalistas de suas Escolas, para estarem, como esclarece, à altura de seus deveres nesse mundo”. Por intermédio dos Laboratórios de que participam, em instituições por onde passam, instalam a aposta nas Conversações – um dispositivo em condições de abrir intervalos para conversar juntamente com outras disciplinas e campos de saber, e fazer falar as desordens, dificuldades e urgências trazidas por crianças e jovens, mediante atos e sintomas. Por essa via, o Cien dialoga com outros discursos e disciplinas, sem se deixar engolir por eles, criando brechas para soluções singulares das crianças exatamente onde governam os significantes universais e transmitindo a operação analítica como um ato político onde quer que esta se apresente, como esclarece o testemunho de Ana Lydia Santiago:
Se a invenção do passe pode ser concebida como um ato político de Lacan, em relação ao futuro da psicanálise, a política do Cien, na mesma direção, visa a tocar algo novo que concerne ao real inerente à extração de um resíduo, um desejo inédito, uma marca singular, que faz com que um não seja comparável a qualquer outro.
Por sua ação, a experiência do Cien no Brasil tem podido colocar em evidência o que sabem as crianças e adolescentes. Esses pedacinhos de saber, quando recolhidos, permitem indicar uma orientação política, inter-disciplinar, para dirigir as crianças até onde seu desejo as conduz. A inspiração desta coletância nasceu da determinação de reunir esses resíduos de saber depositados nas Conversações dos Laboratórios numa obra e, assim, poder transmiti-los, apostando na sua potência de arejar a vida para que a história continue, segundo o desejo de Lacan e o nosso.
Os trabalhos apresentados neste livro expõem, de forma simples e exemplar, como crianças e jovens, por meio de suas respostas, invenções e “traquinagens”10, resistem, de diversos modos, a ser sufocados pelas fórmulas rígidas que o Senhor lhes reserva. E mostram, também, como são vivazes, quando se trata de escapar das garras do controle e fazem tumulto nas escolas, comportando-se como demônios, sempre que os mestres os tratam como “otários”11. Seus sintomas interrogam os planos de governança e, em certa medida, fazem objeção às injunções dos amos modernos, demonstrando que não existe norma universal nem exame científico, que possa dar a resposta final sobre a causa do desejo.
Nadando contra a corrente, as Conversações operadas pelos Laboratórios do Cien em espaços inter-disciplinares das cidades propõem investigar, no mundo contemporâneo, o que nele atua como elemento perturbador e não cede aos poderes do formalismo, atualizando a função vigorosa do mal-estar na civilização, incrustrada no interior do discurso das boas intenções.
Os leitores verão, nos textos que compõem esse livro, a subversão provocada por um adolescente que “passa a conversa” na “polícia que queria pilantrar” e consegue reconduzir o sistema aos trilhos legais12. Ao dar lugar a esse elemento fora da ordem, o impasse revela-se, localizando o que de perturbador escapa da montagem discursiva das instituições, trazendo à cena o que foi “jogado para debaixo do tapete”. A Conversação reintegra esse resto à ordem do mundo, acolhe o impossível de controlar e o mal-entendido da discórdia da linguagem no cerne do laço social.
A palavra, quando enunciada, gera consequências. Se o discurso do mestre tem a função de fazer calar, pois empresta um sentido a mais, a Conversação orienta quanto ao fato de que a palavra serve para revelar um sentido a menos, conectado ao desejo em causa nos seres falantes. É o que ocorre no caso de um menino que, ao falar aos professores que insistiam em ver numa suposta homossexualidade a razão para protegê-lo das violências verbais de seus colegas, faz saber que, para ele, o que não cessa é o real da violência familiar alojado no sintagma “fazer xixi assentado”, que o remetera a um traumatismo fora do sentido e impossível de ser dito mais além do instante de ver a orientação sexual do jovem13.

Brittany Kubat
Etiquetas embebidas de sentidos morais vão perdendo sua consistência imaginária e dando lugar ao surgimento do detalhe singular em jogo, sufocado por categorias universais. Crianças com diagnóstico de autismo, câncer, hiperatividade, obesidade e outros interrogam Serviços ao se recusarem a vestir a camisola prêt-à-porter14. Quando se dispõem a escutá-las, os profissionais podem inventar formas de acolhê-las, mais além da receita dos manuais que padronizam as condutas.
As Conversações dissolvem as etiquetas e, consequentemente, as respostas da patologia deixam de ser suficientes15. Esses efeitos saltam aos olhos, nos espaços das Conversações do Cien. Ao falar do mal-estar que perturba, acontece de “tomar gosto” pela palavra16, na trilha do bem dizer. Mesmo que o discurso analítico não esteja presente como tal, sua transmissão está no coração dessa experiência.
Atuando em diferentes campos, mas de “antenas bem ligadas” à variedade das práticas contemporâneas, os Laboratórios recolhem as dificuldades atuais que envolvem a criança, cujo corpo, tantas vezes etiquetado por diversos discursos que dela se ocupam, se agita, cala, perturba, desobedece. A política do Cien faz surgir, na rotina do trabalho inter-disciplinar, um intervalo para se conversar e, pelas gretas, torna possível ler o momento atual, escutando o saber da criança e suas respostas frente a impasses da presente civilização.
O que a criança ensina?
Crianças e jovens, por onde passam, revelam sua leitura sobre o mestre de seu tempo, bem como as saídas que encontram para não se deixarem sufocar pelos significantes dominantes. Às avessas, as respostas das crianças “furam” o cerco que lhes é destinado e inventam saídas para evitar esse enquadramento geral. É o que revela uma adolescente que, respondendo à Técnica do abrigo que queria lhe aplicar uma ortopedia de comportamento, afirma: “Nós não é fácil. Se nós fosse fácil, nós ‘tava em casa”17. Dessa forma, ensina a ela que, para trabalhar em instituições como aquela em que se encontravam, é preciso saber abrigar o singular de cada um. O que não cessa no mundo dessas crianças e adolescentes é o espaço de um lapso e, pelas brechas, todos sabem que “vida de distraído é sempre cheia de surpresas”, como diz Guimarães Rosa.
Se, por um lado, a fábrica de etiquetas e regulamentações trabalha sem parar, por outro, surpreendentemente, observa-se que isso não “cola” mais como antes. A infância pulsante não se deixa controlar e segue seu curso decididamente, perturbando a ordem geral, de forma criativa ou mortífera. Parece que, quanto mais o amo insiste em enquadrar o fazer de crianças e jovens de forma protocolar, de acordo com as etiquetas à disposição, mais a resposta deles pode ser excepcional. Um sociólogo, esforçando-se em avaliar a arte de um jovem por meio de rótulos específicos, pergunta-lhe:“O que você faz é pixação ou grafitagem? E o adolescente responde: “Sim, eu grapixo!”
A perspectiva é de se construir, a partir da fala desses jovens, uma autoridade que lhes permita sair de seus bandos e da segregação aos quais foram lançados, conferindo a eles, a partir daí, um lugar de responsabilização pelos seus atos. Eis como entendemos, a partir das Conversações, o que é uma autoridade autêntica: uma autoridade que não se pode apoiar sobre um poder exterior e impessoal, pois é questão de presença e de saber fazer.18
Quando a “solidão da massa”19 desenha seus contornos, resta a cada sujeito responder por sua arte e seu artifício – desde sempre inclassificáveis –, saber fazer e responder por seu sintoma, uma vez que “não existe o Outro do Outro para operar o julgamento último”, como ensina Lacan20.

Philippe Pastor, The hearts21
O Cien-Brasil testemunha e transmite, nas Conversações que realiza, uma abertura no “alongamento do instante de ver”22. “Uma Conversação pode fazer vacilar os significantes mestres que regem um fazer protocolar com base em um suposto poder – potência surda e mortífera”. Por essa via, ao se interessar pela palavra de cada um, abre-se a um “saber fazer” com tais dejetos, “a partir da potência viva que decanta do saber dos jovens”23. Afinal, as crianças inventam e surpreendem o mundo com seu modo singular de traduzir o seu mais íntimo inclassificável.
“O que será o amanhã?” […] Eu fico com as respostas das crianças…”
O que se tem hoje foi, outrora, a avant-garde. A criança e os jovens são sempre a vanguarda. “Eles falam, pensam e inventam moda por toda parte, na escola, na rua, nos hospitais, nos tribunais , desde que haja pelo menos um disposto a escutá-los sobre o real de sua época e os impasses que lhes concernem”24.
As ressonâncias dos impasses da civilização atual vão-se desvelar aos leitores, ao lerem esse livro. Nele, deposita-se a aposta nas invenções das crianças e adolescentes de hoje, no seu saber fazer, na sua decisão apaixonada pelo futuro, traço fundante da juventude de cada época. As crianças e jovens são o futuro. Cabe-lhes, pois, inventar suas saídas para os impasses que vivenciam no presente, visando ao futuro que os aguarda. Essa nova geração, que está falando por meio de seus corpos, de seus sintomas, porta um saber em condições de inventar a bússola que nos levará ao amanhã.
Este livro é um convite para abrir os pulmões e escutá-la!
Agradecimentos
Agradeço a todos os autores que com sua palavra deram vida e consequência a esse livro do CIEN Brasil; agradeço a Comissão de Orientação do CIEN Brasil, bem como, o trabalho rigoroso da Editora Scriptum cujo efeito se mostra no primor d’arte. Agradeço, também, a aposta decidida da Diretoria do CIEN Francophono e da Diretoria do Instituto de Psicanálise e Saude Mental de Minas Gerais, a generosidade e gentileza da equipe editorial do Cien Digital, permitindo-nos gentilmente a publicação de algumas vinhetas recolhidas no decorrer do tempo de percurso do CIEN no Brasil. Agradeço, mais uma vez, a consultoria vibrante e pontual de Eric Laurent e, por fim, o que posso dizer para agradecer a parceria alegre, amiga e arrebatadora de Judith Miller e Ana Lydia Santiago? Sem o esforço e a poesia de cada um de vocês, esse livro não veria o dia.
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Trauma – Blitz
by cien_digital in Apresentação, Cien Digital #16, Sem categoria

Klara Kristalova, ‘The Catastrophe’, 2007
Eric Laurent
Trauma é uma palavra que nos vem da Renascença, como Sinthome. O trauma se escuta melhor quando ressoa sua origem grega: trôma, a ferida. Lacan nos fez entender que é a ferida irreparável que faz lalíngua sobre o corpo. É o traumatismo do nascimento à língua.
O esplendor da origem há muito tempo foi cantado em poesia e valorizado pela filosofia. O avesso desse esplendor é o sol negro do trauma e seus efeitos de atração estranha, de buraco negro absorvendo misteriosamente toda energia no sentido que Jacques- Alain Miller deu à energeia no final de seu curso “O ser e o Um”. Ele é o buraco que bordeia a iteração do Um. Ele organiza a topologia do espaço na qual se situa o que nós chamamos sujeito. O trauma tem também relação com o múltiplo. Há o trauma do qual testemunha o autista, há aquele que Michel Leiris e seu “reusement”1. No seu caso, o traumatismo é aquele da enunciação. No ato da enunciação, há nomeação latente desse primeiro núcleo traumático. O traumatismo não é simplesmente a inscrição de um choque, ele é também o buraco produzido pelo ato de enunciação.
A citação que me agrada sobre o trauma – ferida é uma variação sobre o que Lacan chamava o parceiro “devastação”. O homem-devastação, para uma mulher, esclarece a devastação que acreditamos conhecer muito bem entre a mãe e a filha, ou a devastação que pode fazer uma mulher visando uma outra. A marquesa de Merteuil escreve ao visconde de Valmont: “Quando uma mulher golpeia no coração de outra, ela raramente erra em encontrar o lugar sensível, e a ferida é incurável .”
Se o trauma fosse um livro, seria um livro ou uma novela de Kafka. No “Um Relatório para uma academia”, o macaco torna-se homem ,traumatizando seu professor de humanidade, aquele que se apresentava como mestre da linguagem dos homens.
“Minha natureza de macaco escapou de mim frenética, dando cambalhotas, de tal modo que com isso meu primeiro professor quase se tornou ele próprio um símio, teve de renunciar às aulas e precisou ser internado num sanatório”.
Um Relatório para uma academia – Kafka

Mauro Espíndola, enthes paterctomizados, 2009
Se o trauma fosse uma música seria “Elektra”, ópera de Richard Strauss escrita com Hugo Von Hoff-mansthal antes da Grande Guerra, tragédia em um ato de uma violência e de um horror sem igual. A filha traumatizada pelo assassinato do pai grita seu nome e sua dor do mesmo modo que um rugido animal. Ela se segura no lugar de sua dor de existir e aí se consome. Como dizia o texto de apresentação da última Ópera montada por Patrice Chereau neste verão, no festival de Aix-en-Provence, o Elektra dirigido por Esa-Pekka Salonen “Richard Strauss fez uma ópera violenta e súbita, com sua partição vulcânica, seu ato único de espera febril depois de violência irrepreensível, sua imensa orquestra também refinada que desencadeia, e suas vozes de mulheres que cantam o desespero de uma família decomposta. A solidão do indivíduo e a violência íntima jazem no coração do trabalho teatral de Patrice Chereau. Era natural então, para ele, entrar na corrida louca de Elektra, a mulher cujo grito é um canto”. Se lemos a homenagem que Brigitte Jacques-Wajcman endereçou à Chereau no Lacan, Cotidiano, não podemos pensar que ele não a fez deliberadamente.
Se fosse um filme seria Cidadão Kane de Orson Welles, pela última palavra que pronuncia Kane antes de morrer: “Rosebud”. Qual é o trauma secreto que vem assim se nomear? É o que um critico do filme americano chamou “o maior segredo do cinema”. Welles considerava que ele tinha feito tudo para – esvaziá-lo de sentido . « We did everything we could to take the mickey out of it ».
Resta esta pura letra “Rosenbud”. De onde ela vem? Entre todas as respostas propostas e que o artigo de Wikipedia condensa muito bem, dois se destacam. Em seu livro de 2002, Hearst Over Hollywood, Louis Pizzitola relata que era o apelido dado à mãe de Hearst pelo filho de um casal de amigos íntimos daquela e rival em seu coração de seu próprio filho. Gore Vidal, sempre bem informado dessas coisas, declarou que Rosebud era o apelido dado por Hearst ao clitoris de sua amante, Marion Davies. O que foi confirmado por outros. Então: traumatismo da mãe ou da mulher, no que acreditar? Nos dois.
Se fosse uma peça poderia ser “Os espectros” de Henrik Ibsen. Lemos aí o traumatismo das teorias da hereditariedade científica do fim do século, soberbamente expostas. Os espectros em questão são as aves da desgraça que se fundam sobre uma família decomposta quando todo o discurso está deslocado. No nível dos servos, um pai quer prostituir sua filha, mas em uma casa de repouso para marinheiros dignos. No nível dos mestres, o pai morto teve uma criança com a empregada, que se torna- dama de companhia da mãe, e o filho da família retorna de uma longa temporada no estrangeiro, de onde ele fugiu e contraiu sífilis, para querer se casar com ela. O pastor desconsidera todos esses segredos uma vez que ele está no coração da intimidade da família e é um antigo amante da mãe. A fogueira das vaidades consome a riqueza e as boas intenções da herança deixada pelo pai no incêndio do hospício. E no ano anterior, Thomas Ostermeier dirige a cena da morte do filho nos braços da mãe como um eco à morte incestuosa da mãe no “Minha mãe” de George Bataille.
Tradução: Cristiana Pittella de Mattos
Revisão: Maria Rita Guimarães
Os mais sinceros agradecimentos a Éric Laurent pela autorização concedida a CIEN Digital para a publicação do presente trabalho.
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Sexualidade: Intervenção de Freud sobre O Despertar da primavera
by cien_digital in Apresentação, Cien Digital #19

Auguste Rodin, une main entre les cuisses dite Naissance de Vénus
S. Freud[1]
[…] Podemos pensar que Wedekind tem uma profunda compreensão do que é a sexualidade. Para nos convencer é suficiente verificarmos como no texto explícito dos diálogos passam constantemente subentendidos de caracter sexual. […]
Para retornar ao O Despertar da Primavera direi, e sublinho isso, que as teorias sexuais das crianças constituem um tema que merece ser estudado como tal, ou seja: como as crianças descobrem a sexualidade normal? No fundo de todas as concepções equivocadas que elas podem fazer, há sempre um núcleo de verdade. […]
Considero como uma notação muito fina por parte de Wedekind a de mostrar entre Melchior e Wendla um empuxo ao amor objetal sem escolha de objeto, dado que não estão de modo algum apaixonados um pelo outro. O fato que Wendla, a masoquista, não ter sido espancada por seus pais, prova igualmente que Wedekind não se deixa enganar pelos clichês habituais – caso contrário, ele a teria apresentado como tendo sido espancada na sua infância. Ao invés, ela se queixa de não tê-lo sido de forma suficiente. Isso é verdade: geralmente os que foram espancados severamente na sua infância não se tornam masoquistas. […]
A ênfase que Wedekind dá à última cena, aquele humor mordaz, é perfeitamente justificado do ponto de vista poético. O que ele quer dizer é: tudo isso é só infantilidade, um absurdo. Podemos certamente, com Reitler, ver nos dois personagens, Moritz e o homem mascarado, as duas correntes que dividem a alma de Melchior, que é ao mesmo tempo atraído pela morte como pela vida. Também é verdade que o suicídio é o ápice do auto-erotismo negativo.
E, a esse respeito, a interpretação de Reitler é exata: negar o amor a si mesmo é suicidar-se. Durante essa última cena, não há nada mais que o humor no interrogatório a que é submetido o homem mascarado. Encontra-se atrás dos pensamentos mais profundos. O demônio da vida é ao mesmo tempo o diabo, ou seja, o inconsciente. Tudo se passa, efetivamente, como se a vida estivesse submetida à questão. Esse tipo de exame é um traço característico que reencontramos regularmente nos estados ansiosos. Num acesso de angústia, por exemplo, um sujeito começa por se interrogar supostamente para verificar se ele ainda mantém sua razão.
Porque, por trás, a Esfinge ronda a angústia (“Esfinge” significa o “Estrangulador” – (“étrangleur”). A questão que está na base de todas essas interrogações é, indubitavelmente, a que surge da curiosidade infantil sobre a sexualidade: de onde vêm as crianças? A Esfinge apenas coloca a questão inversamente: o que é, portanto, que vem depois? Resposta: o ser humano. […]
Tradução: Maria Rita Guimarães
Notas:
1 Intervenção sobre O Despertar da primavera, texto des Minutes da Sociedade Psicanalítica de Viena (XIIIe Minute), redigida por Otto Rank, International University Press, New York, 3 vol., 1962-1974, traduzida ao francês por Jacques-Alain Miller. Acessível no site http://www.colline.fr/sites/default/files/archive/0.651604001267619461.pdf

Trauma, Solidão e Laço na Infância e na Adolescência – Experiências do CEIN no Brasil
by cien_digital in Apresentação, Cien digital #21
“Crianças e adolescentes brasileiros, este livro lhes faz saber que vocês tem ao seu lado mulheres e homens, vindos de todos os meios e de todas as culturas de seu país múltiplo; por terem eles próprios se confrontado com essas tensões irredutíveis da infância e da adolescência dos pequenos homens, estão prontos a lhes acompanhar para que vocês encontrem aí as respostas que lhes convenham, com ferramentas que vocês receberam ou que vocês irão forjar, tecer, modelar, bricolar… com eles.
Esta obra demonstra que isso é possível, que nenhuma adesão a uma doutrina ou a um ideal qualquer é demandado na entrada, que você pagará o preço que seja justo, e que podemos aprender muitas coisas que nós ainda não sabemos…”
Daniel Roy, no prefácio.
Sumário
Prefácio
9 As crianças e os adolescentes brasileiros têm mulheres e homens ao seu lado: a experiência do CIEN Brasil
Daniel Roy
Apresentação
13 A invenção do CIEN
Heloisa Prado Rodrigues da Silva Telles
Capítulo 1
O CIEN e a Orientação Lacaniana
21 A reconquista do Campo Freudiano
Judith Miller
37 Retomar a definição do projeto do CIEN e examinar sua situação atual.
Éric Laurent
49 Trauma e Real, o que as crianças inventam
Miquel Bassols
81 A singularidade da criança
Miquel Bassols
Capítulo 2
O CIEN e seus dispositivos
93 A vinheta pratica tal como ela se elabora no Laboratório do CIEN
Philippe Lacadée
99 A dimensão clínica na apresentação do caso e na prática do CIEN
Nohemí Ibáñez Brown
109 A pratica interdisciplinar do CIEN
Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros
113 Falando sobre o CIEN com seus participantes!
Nohemí Brown, Lucíola Macêdo, Rodrigo Lyra, Fernanda Otoni-Brisset, Síglia Leão, Ana Martha Wilson Maia e Miguel Antunes.
Capítulo 3
Trauma, invenção e juventude: o que dizem os analistas
127 “O caso Ernesto”: trauma e invenção. A propósito de As crianças, de Marguerite Duras.
Miquel Bassols
141 O impossível, guia. A alegria da criança
Anna Aromí
153 Apresentação do texto “Em direção à adolescência”, de Jacques- Alain Miller
Ana Lydia Santiago
165 Juventude e trauma: a experiência de desenraizamento
Lucíola Macêdo
Capítulo 4
Conversações: experiências dos Laboratórios do CIEN no Brasil
183 TRAUMA E REAL: O QUE AS CRIANÇAS INENTAM?
189 Da surpresa do impasse à surpresa da invenção: as novas leituras das equipes interdisciplinares
Conversa: Ana Lucia Lutterbach
233 Do impossível do impasse à contingência da invenção: as invenções das crianças e dos adolescentes
Conversa: Fátima Sarmento e Cristiana Pitella
279 Da normatização à invenção: os impasses contemporâneos.
Conversa: Cristina Drummond
311 SOLIDÃO E LAÇO NA ADOLESCÊNCIA
313 Inter-disciplinaridade como o CEIN a escreve: por que não se trata de uma clínica?
Conversa: Marcelo Veras
353 Por que a conversação é diferente de uma aula?
Conversa: Fernanda Otoni-Brisset
383 O Laboratório e as instituições: cadê o impasse?
Conversa: Marcus André Vieira