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Editorial – Abril 2015

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Daniel Arsham, Sideways clock, 2012
Foto: Simone Catto
Maria Rita Guimarães

Caro leitor e amigo do Cien Digital,

Talvez a melhor maneira de lhe apresentar este número do Cien Digital, fosse simplesmente sugerir que você o abrisse, como quem abre um “Kinder Surprise“: uma surpresa, certamente aguardada, mas impensável! Tomemos outra perspectiva: se a evocação do Kinder Ovo veio fácil à cabeça por ser tempo de páscoa e vemos ovos de chocolate por toda parte, apelativos, atiçando os sentidos, sussurantes em nossos bolsos, é que aí, justo na face que se oculta sob a sedução do Kinder Ovo, reside nosso interesse de reflexão no momento. Chocolate? Não! Interessa-nos pensar a criança e adolescente como metáfora do Kinder Ovo, caso pensemos como Zizek que qualificou o famoso chocolate –aliás, de chocolate tem pouco- de metáfora da mercadoria. Assim, nosso assunto, porque é nossa preocupação, é com a criança/mercadoria. Se continuarmos na formulação de Zizek, que cita Lacan “Eu o amo, mas, inexplicavelmente, amo alguma coisa em você mais do que você mesmo, e portanto, o destruo”, temos a noção de objeto a, o agalma representado tanto pelo brinquedo que vem dentro do chocolate (no vazio material do ovo, como um “mais”) quanto pela criança como plus que colma a falta materna, o nada do desejo. A mercadoria perfeita porque ela mesma já é o suplemento capaz de satisfazer as expectativas idealizantes.

A criança no consumo, consumidora, consumida, saturada. Clic em Evento, leia e se inscreva na Jornada Internacional do Cien, cujo título é: Crianças saturadas.Você encontrará, junto ao Argumento,  todas as informações de que precisará para estar conosco em 03 de setembro em São Paulo, por ocasião do Enapol. Se, rumo ao VII Enapol estamos às voltas com a temática O Império das Imagens, publicamos, na rubrica Hífen, a valiosa elaboração de Paula Sibilia: O passado editável – crise da interioridade e espetacularização de si – que nos ajuda a entender, se posso dizer assim, a efemeridade da experiência humana, constantemente deletável, nos tempos atuais.

Paula diz em seu trabalho: “Sempre há um espectador, um leitor, uma câmara, um olhar sobre o personagem que tira dele seu caráter meramente humano. E, para poder existir, ele precisa fervorosamente desse olhar alheio”.

A criança/adolescente foram descobertos pela publicidade como novo target, termo que designa o público de referência a que se destina a mensagem. Um estimulante e rigoroso  estudo desse assunto você vai ler, com o entusiamo que o texto suscita, também em Hífen: Publicidade infantil: o estímulo à cultura do consumo e outras questões.

E o avesso dessa perspectiva, onde  está? Leia a ENTREvista com Nina Krivochein, de onze anos, que nos ensina muito sobre como se pode ser uma criança que escapa às malhas da engrenagem contemporânea. Se a palavra contemporânea convoca a uma sociedade que vive baixo o império das imagens, a linda surpresa é conhecer como jovens de 13 a 16 anos, estudantes de uma escola municipal situada em uma região de “alta vulnerabilidade  de Belo Horizonte”, reagiram ao encontro com a arte de Leila Danziger, na  coleção: “O que desaparece, o que resiste”. Essa experiência está relatada em Labor(a)tórios, mas, lá, você encontra mais!

Por quais paradigmas se orientam e/ou se desorientam  os jovens sob o império das imagens? A obs-cenidade já não conta mais com a barreira do prefixo obs, obstáculo que permitiria a delimitação mínima do privado? Postar foto nua no Facebook, em posição “ginecológica” é “natural” mas, o obs passa à fala. Falar disso é interditado? O texto O real do sexo, a imagem do corpo e seu consumo na adolescência nos deixa a questão.

Os integrantes do Laboratório Trocando uma Ideia nos relatam o que vivenciaram junto a “adolescentes do Centro de Internação que estão cumprindo medida com privação de liberdade por um período que varia de 06 (seis) meses a 03 (três) anos, e possuem, em geral, entre 12 e 18 anos. Eles foram convidados e aceitaram participar de “conversa sobre sexualidade”. Cada encontro, uma surpresa, no sentido da contingência.

Os escritos da experiência de Conversação dos Laboratórios do CIEN a cada vez nos reavivam o valor das palavras de Judith Miller:

José Bechara, Água Viva, 2015

Como finaliza a prática de um Laboratório? É Thaís Morais, do Maranhão, quem nos conta sobre a trajetória do Laboratório Guarnicé.

Vidademerda.com Uma localização que define, através da fala de uma adolescente do filme 17 filles, a vida que levam, mas sobretudo a vida de suas famílias. Querem, naturalmente, se libertar do asfixiante tédio que lhes acena no horizonte. Como respondem? Numa espécie de epidemia histérica, engravidam-se ao mesmo tempo, gestação de um poder tão espetacular que seus ventres adolescentes, carregados de objetos a como os brinquedos que recheiam os Kinder Surprise, parecem não ter que responder à lei da gravidade, tal como os vemos nas magníficas imagens dentro das claras águas em que se exercitam em grupo. Cristina Drummond, nossa colega da Escola Brasileira de Psicanálise , responsável pela coordenação da próxima Jornada  da Seção MG, com o título: O que quer uma mãe, hoje? Maternidades no século XXI – faz uma análise do filme, conduzindo-nos, através de suas palavras, a uma análise do fato real ocorrido em 2008, nos EUA, na interpretação atual das irmãs cineastas francesas. Teresa Mendonça e Simone Pinheiro também nos apresenta sua contribuição ao debate, em indagações pelo sentido do ato adolescente via a maternidade. No Cine Cien!

Por fim, você  notará que a equipe editorial do Cien Digital tem nova composição. Nossa querida colaboradora Fernanda Otoni de Barros-Brisset se despediu: nossos agradecimentos vão para além do tempo e trabalho conosco, para chegar às suas palavras ”estarei por perto.” E damos as boas vindas aos colegas que, a partir do número 17, integraram-se  à equipe , com muito entusiasmo! Ana Martha Maia (RJ), Dário de Moura (MG), Margarete Miranda (MG), Nohemí Brow (PA) e Siglia Leão (SP).

Desejamos-lhe boa leitura !

Nota: o texto de Zizek , numa versão bastante reduzida, pode ser acessado em http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/identidade.html

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