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A conversação é uma ferramenta de trabalho do Cien

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Christian Rosa, This is the Next One, 2013
Vânia Brito Gomes

Os laboratórios do Cien-Rio colocaram uma questão que foi trabalhada em dois encontros esse ano: Quais as diferenças e aproximações entre uma supervisão clínico-institucional e o dispositivo da conversação? A prática de alguns laboratórios se dá em instituições que demandam uma supervisão clínica, supervisão de um projeto etc. Como se introduz nessas práticas a conversação?

Nessa visada, a primeira diferença apontada foi a função de cada uma delas. A supervisão clínico-institucional visa dar uma orientação para um caso, uma construção que orienta a clínica ou a condução de um projeto institucional. Na experiência da conversação diz Lacadée[1], não há uma preocupação terapêutica, mas trata-se de abrir possibilidades para que um saber inédito possa ser dito por aquele que se aventura nessa aposta. Lacadée[1] precisa que o que se recolhe das conversações são vinhetas práticas.

A diferença de “papéis” do psicanalista em cada uma delas também foi marcada. Na supervisão, ao analista é suposto um saber e, dessa forma, sustenta a hiância própria do inconsciente para convocar cada sujeito no processo singular de construção.

Na conversação o analista encarna o que chamamos de um vazio, um não-saber que possibilita que cada profissional das diferentes disciplinas possa colocar em seus termos o que está em jogo no impasse que se apresenta. Há uma aposta de que nos diferentes discursos há brechas e de que, nesses intervalos, pode-se produzir algo novo.

O Laboratório Pipa avoada[2] trouxe um fragmento de uma supervisão clínico-institucional em uma “Casa Viva”, uma casa que abriga meninas adolescentes, para pensarmos:

A queixa trazida pelos educadores e técnicos é de que as meninas não conseguem seguir as “regras da casa” e são frequentes as brigas e quebra-quebras. Um dos profissionais dá exemplo de uma menina que quer usar o celular para jogar, fora do horário permitido. A supervisora interroga se o uso que a menina quer fazer, jogar, está incluído nas regras, e concluem que isso não estava escrito.

Harding Meyer, o.T., 2016

Essa abertura, “não está escrito na regra”, é o ponto a partir do qual seria preciso inventar. A supervisora chama a adolescente para falar. A menina diz que quer jogar no celular para ficar sozinha, está se sentindo mal com suas “regras”. Esse significante traz um mal estar no corpo, as regras menstruais, o que em uma casa de meninas nunca havia sido discutido.

A partir da inclusão desse algo novo, propõe-se uma conversação com as meninas para dar lugar a esse mal-estar no corpo feminino. “Regras” parece ser o significante que conecta mas também o que separa o trabalho da equipe e das meninas. Os desdobramentos da conversação com as meninas são interessantes pois passam a incluir uma regulação própria, “respeitar a tensão da outra”.

Essa intervenção, dar lugar à fala da adolescente, no a posteriori indica um ato, pois produz efeitos na equipe também. É tomado como uma surpresa, e interroga de outra forma o imperativo universal “as regras tem que ser cumpridas”. A palavra circula e os deslocamentos possibilitam um novo trabalho, aparecendo os limites e como cada um flexibiliza suas próprias regras.

Miller[3] indica que em uma conversação não se trata de produzir uma “enunciação coletiva”, mas uma “associação livre coletiva”. Nessa vinheta vimos que houve uma operação para dar lugar a esse funcionamento.

Reconhecemos aí uma virada, e nos perguntamos se esse segundo momento da reunião de equipe já não seria uma conversação. Essa foi uma surpresa para os participantes do Cien também. Localizar como em uma supervisão algo opera e insere a conversação como uma ferramenta de trabalho.

Mais do que traçar diferenças, levar adiante essa interrogação nos fez avançar na aposta da conversação, abrindo um campo de possibilidades de laço com outros discursos, não sem, é claro, como o Cien ensina, a solidão de cada um deles.

 


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