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Conversação dos laboratórios CIEN-MG

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Berna Reale, Os Jardins Pensus da América
Foto: Thinkstock e Divulgação, 2012
Virgínia Carvalho

Tivemos, na nossa última noite do CIEN-Minas, uma conversação “ao vivo”. Circularam por ela os temas da próxima Jornada do CIEN, “Crianças Saturadas”, do ENAPOL, “O Império das Imagens” e da Jornada da Seção Minas, “O que quer a mãe hoje?”. No formato de conversação, “prática da palavra para tratar as manifestações indesejadas que produzem insucessos e fracassos” ( SANTIAGO, 2011 ), elegemos uma situação-problema que se apresentava na inter-disciplinaridade com o campo da educação. Servindo-nos da associação livre coletivizada, partimos de uma queixa escolar, buscando “um outro uso da palavra, em que a queixa toma a forma de uma questão e a questão, a forma de uma resposta: invenções inéditas”, orientação destacada por Ana Lydia Santiago (2011).

Com a sala cheia e profissionais atuantes em diversas áreas, tais como: educação, medicina, saúde mental e psicanálise, tivemos uma noite de intenso trabalho. Quem participou, ali esteve imbuído da responsabilidade de se debruçar sobre um impasse, buscando construir novas maneiras de tratá-lo. Tal impasse, dessa vez, esteve localizado na dificuldade experimentada pelos educadores e pela direção de uma escola da rede pública da capital. Marlene Machado, vice-diretora desta escola, além de  doutoranda do Programa de Pós-Graduação da FaE/UFMG, foi quem formalizou o impasse e também as intervenções tentadas até o momento da conversação.

Trata-se do incômodo promovido pelo menino de 8 anos, esperto e com bom rendimento escolar, mas que tinha momentos de muita agressividade na escola. Buscando localizar o que havia de comum entre esses episódios, em que era violento na escola, Marlene percebe que eram precedidos por situações em que precisava se deparar com o imaginário: confecção de máscaras, visitas à biblioteca, atividades de faz de conta. Após tais situações, se agitava, e começava, sem aparente motivo, a agredir os colegas, empurrar as carteiras e jogar as coisas no chão. Ao tentar contê-lo, Marlene recebeu cuspe, tapas e mordidas. Mas, também, um estabelecimento da transferência, pois a criança passou a procurá-la. Isso porque ela lhe disse que sua roupa seria lavada com água, mas o que o estava incomodando, somente falando é que iria melhorar.

Sanya Kantarovsky, untitled, 2011

Na conversa com a mãe, esta justifica o problema da criança, dizendo que não estimula o filho a imaginar porque tem medo dele revelar uma homossexualidade. Por isso, não permite que consuma brinquedos, apenas roupas. Em uma das intervenções com a criança, foi-lhe questionado se isso seria um problema para ele, ao que afirma que não. Foi indicado, então, que fosse brincar com as outras crianças e deixasse esse assunto da sexualidade para o futuro. Ele brincou como nunca antes havia feito.

Embora na construção do caso para a conversação algumas soluções para o caso já se anunciassem, a circulação da palavra entre os participantes permitiu um questionamento sobre a violência na escola e a contenção física. Seria a contenção física a melhor alternativa nos casos em que a agressividade se apresenta no corpo em direção ao outro?

Através de diversas situações relatadas pelos colegas, fomos tentando delimitar o que ocorre quando se segura o corpo seja de uma criança pequena, de um adolescente em uma crise psicótica ou até mesmo o de um adulto em um serviço voltado à saúde mental.

Com a conversação, concluímos que não é possível uma generalização sobre esse tema, mas mantém-se atual a indicação lacaniana de que a violência é o que se pode produzir em uma relação inter-humana, quando não prevalece a palavra. E, nesse sentido, a palavra pode promover uma forte contenção. É a aposta do CIEN: um tratamento pela via da palavra.

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